segunda-feira, novembro 12, 2012
A Refundação da Banca
Tudo o que
corre mal na sociedade humana pode ser melhorado corrigindo as regras da
sociedade; e sempre que alguma coisa corre mal, há que corrigir as regras.
Os pequenos
erros são difíceis de corrigir porque há sempre muitos interesses que
beneficiam deles; mas as grandes catástrofes, ao contrário, são uma
oportunidade de ouro para corrigir grandes e pequenos erros. O Tsunami do Japão
acabou com o programa nuclear da Alemanha, por exemplo.
O sistema
bancário atual tornou-se um paradoxo: o Estado é o garante do sistema sem ter
nenhum controlo sobre os riscos. Um absurdo que importa corrigir rapidamente.
E é fácil corrigir.
Para começar,
os depósitos a prazo saem da banca. O que cria o risco sistémico é as pessoas
terem as poupanças na banca. Saindo de lá os depósitos a prazo, esse risco
acaba.
Vão para onde
os depósitos a prazo? Para o Estado. O Estado só pode ser o garante desse
dinheiro se tiver a sua gestão direta. Os depósitos a prazo vão para os
Certificados de Aforro. Dupla vantagem para o Estado, ou seja, para todos os
contribuintes: o Estado tem o controlo do risco e financia-se livre de ataques
especulativos.
Para a Banca
fica a prestação de serviços bancários – gestão de contas à ordem, multibanco,
etc. Serviços de que ela naturalmente se cobrará. E fica o crédito ao consumo e
a actividade financeira dita de “investimento”, ou seja, a actividade que
consiste em ganhar dinheiro com o dinheiro. As pessoas que querem ganhar dinheiro com o dinheiro aderem aos produtos que a banca lhes propuser mas ficam com os riscos, ou fazem seguros, o que quiserem, tudo menos querer que seja o Estado, ou seja, os contribuintes, as pessoas que não querem correr riscos, a assumir os prejuízos quando as coisas correm mal e eles ficarem com os lucros quando as coisas correm bem. Se falir, faliu. Todas as iniciativas privadas têm de poder falir; o que não puder falir tem de ficar sob o controlo do Estado.
Como é que se consegue esta profunda mudança? Facílimo: o Estado remunera os certificados de Aforro adequadamente e as pessoas mudam. Os Bancos financiam-se agora no BCE a 0,75%, não precisam dos depósitos a prazo, até porque estão limitados no volume de empréstimos que podem fazer.
O Estado ainda
tem de assegurar duas outras coisas.
Uma é o crédito
às empresas nacionais. Essencial para garantir igualdade de competitividade. O
Estado tem de ter um Banco de Fomento ou um banco dependente do Estado que
assegure essa função. Podia ser a CGD, mas teria de levar uma escovadela
enorme; talvez o mais simples seja começar de novo, fazer um novo banco e
privatizar a CGD, ou talvez a CGD consiga fazer uma inversão de percurso. A ver vamos.
A outra coisa é
o crédito para assegurar dois direitos fundamentais: à habitação e à educação.
O crédito à
habitação tem servido de capa para todo o tipo de crédito ao consumo e fugas
aos impostos; mas não pode ser, este é um crédito com regras especiais, que tem
de ser controlado pelo Estado. Como a Banca não é agora controlada pelo Estado, este
crédito deve ser função do Estado ou, pelo menos, o Estado deve ter uma relevante capacidade de intervenção. É o que se passa na Suécia, segundo creio.
O mesmo se
passa com créditos necessários a garantir a igualdade de oportunidades,
nomeadamente para a educação. É o que têm os países nórdicos.
Como vêm, não
só é fácil resolver estes problemas como até já está feito nos países nórdicos;
já ouviram falar de alguma crise financeira na Suécia?
Claro que ainda
há uma questão de fundo a resolver com a circulação de capitais e os offshores.
Mas lá chegaremos.
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29 comentários:
Parece-me bom o esquema.
Contudo, ele já existe, de facto.
Designadamente, quanto aos certificados de aforro.
O que sucede(u) é o Estado ceder aos bancos,
pois, querendo-o, a população desvia os depósitos
dos bancos para o Tesouro público.
É uma questão de remuneração e confiança.
Quanto ao crédito à habitação e educação universitária, é uma questão de legislação, desde que o Estado não claudique. É essencial favorecer possibilidade de emprego aos cidadãos mas também igualdade de oportunidades.
No fundo, o esquema existe mas os partidos 'liquefazem-se' aos endinheirados para ganhar eleições e obterem "tachos", submentendo-se aos ricos.
vbm
Exactamente; a que propósito é que se tornou os certificados de aforro desinteressantes e se passaram essas poupanças para a Banca? Para depois se ser chantageado por ela??
Mas agora, subitamente, o Governo pôs um prémio de 2,75% sobre a fórmula dos certificados de série C e igualou-lhes os da série B; com isto os certificados de aforro batem as propostas bancárias e o que as pessoas têm a fazer é mudar as suas poupanças dos bancos para os certificados de aforro.
Os bancos, pelo seu lado, já não estão interessados nos depósitos a prazo porque agora têm o dinheiro do BCE a 0,75%.
O dinheiro do BCE que é o nosso dinheiro, tanto quanto entendo...
O que falta é publicidade, é dizer às pessoas: esqueçam os depósitos a prazo e vão para os certificados de aforro.
E falta outra coisa: porque razão é que o Estado há-de continuar a garantir os depósitos bancários até 100.000 euros??? Os bancos que façam um fundo de garantia e os garantam, se quiserem. Agora, eu, o contribuinte, ter de estar a garantir os depósitos dos que não querem certificados de aforro é que não!!!
Quem quer a garantia do Estado, que compre certificados de Aforro.
Isto é algo que um Salazar já teria certamente feito... mas estes não têm a estatura daquele.. e note-se que eu não sou nada saudoso dos tempos da outra senhora, mas reconheço que o Salazar não era parvo nem vendia os interesses do país aos interesses dos outros (apenas aos seus...)
Talvez haja uma falha nesse raciocínio quanto ao estado se financiar livre de ataques especulativos, uma vez que “se existe um desequilíbrio externo, as poupanças internas não são suficientes para financiar a tomada de dívida interna.” (ThinkFN)
Resta saber se esse banco estatatal teria ou não capacidade para financiar as necessidades das empresas, isto se os bancos estão limitados no volume de empréstimos que podem fazer.
Bem, pela minha parte continuo a autoeducar-me na nova religião do tempo… a economia que afinal não dá sustento!
Tranacrevo ainda algumas ideias que se apoiam na necessidade de distinguir entre dinheiro e riqueza, conceitos hoje em dia facilmente confundidos mas distintos:
«The truly monumental task will be to redesign the money system to make money the servant of the creation and protection of real wealth. Among other things, corrective measures will need to: 1) make speculation unprofitable; 2) limit the growth of financial bubbles; 3) increase incentives for cooperation among people and communities; 4) reward productive work and investment; 5) create a just distribution of claims to real wealth; 6) provide incentives for patient and locally rooted investment in real assets; and 7) strengthen the social fabric of family and community.» − David Korten (1997)
I like it! :)
leprechaun
Claro que é preciso uma balança externa equilibrada; tal como é preciso não ter empresas estrangeiras que apenas vêm cá pagar mão-de-obra e mais nada, porque estas empresas vão agir no sentido de baixar o custo da mão-de-obra, ou seja,vão provocar recessão. Mas isso é um outro assunto.
Se O Estado tiver um nível significativo de depósitos ganha poder negocial; e de duas maneiras. Uma é que não fica com a corda na garganta quando vai aos mercados.
Por exemplo, se tiver uma dívida de 100% do PIB mas depósitos no valor de 40% do PIB, só precisa de se financiar em 60 % do PIB. Estás a ver? Ter depósitos, para este efeito, equivale em grande medida a reduzir a dívida pública!!!!!
Ou seja, Portugal não consegue certamente reduzir a dívida pública para os 60%; mas talvez consiga captar poupanças que coloquem o diferencial nesse valor!!!
E há outro aspecto: se um Estado tem um significativo valor de poupanças, então ele é fiável.
A Banca, por seu lado, vai perder fiabilidade, por deixar de poder fazer a chantagem do "risco sistémico".
Assim, para as aplicação de baixo risco e baixa taxa de juro, a compra de dívida soberana passa a ser a aplicação preferencial.
Quanto ao resto que dizes, é isso mesmo. Só há é um problema: quem tem dinheiro não está interessado em colocá-lo ao serviço da sociedade; por isso, é preciso fazer uma teoria e é preciso encontrar quem seja capaz de a pôr em prática
Um último aspecto: se um país tem uma balança externa positiva, outros terão de a ter negativa, não é verdade? Portanto, ter uma balança positiva passa por duas acções: ser mais "competitivo" e "boicotar os outros". Uma solução do tipo os países mais ricos ajudarem os outros a terem balanças positivas seria um suicídio para os mais ricos. Como é que se sai disto? deixo-te para reflexão...
Para já, a minha reflexão está centrada em textos da Língua Portuguesa... escrever é a minha forma de viver! :)
Mas deixo ficar aqui um link para uma série de artigos que pugnam por uma nova economia alternativa ao modelo atual... e que eu nem sabia que estava tão mal!
YES Magazine - Money
Esses artigos já têm 15 anos, mas parecem-me atuais, ou seja, o que se dizia em 1997 ainda se aplica hoje em dia. Talvez a grande diferença seja que cada vez mais pessoas se vão apercebendo que "aqui há gato!"... pois se até já eu noto "a pedra no sapato"!
Enfim, vou estudando devagar...
Rui leprechaun
(...que há muito p'ra meditar! :))
«[ ] a que propósito é que se tornou os certificados de aforro desinteressantes e se passaram essas poupanças para a Banca? Para depois se ser chantageado por ela??
Mas agora, subitamente, o Governo
pôs um prémio de 2,75% sobre a fórmula dos certificados»
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Suponho que houve o receio de levantamento generalizado de depósitos bancários, e risco de falência dos bancos.
O facto de os bancos se poderem endividar a curto prazo no Banco Central Europeu a taxa inferior a 1% e depois subscreverem obrigações do Tesouro a 3% ou mais, permite-os capitalizarem-se e diminuir o risco de falência pelas imparidades do crédito mal parado.
Parece-me inescapável ser a população a ter de suportar os prejuízos de consumos não pagos e investimentos ruinosos por inutilidade evidente.
Por certo, é censurável a política desastrosa que produz estes descalabros, mas os povos têm de ser mais lúcidos e não se deixarem enganar por políticos demagogos, corruptos e embusteiros.
A melhoria de atractividade dos certificados de aforro dever-se-á ao alívio da pressão sobre os bancos. É saudável a concorrência entre o Tesouro Público e os bancos de depósito na recolha de poupanças da população.
Por outro lado, a crise do sub-prime na América comprovou que é preferível os bancos de investimento não estarem separados dos bancos comerciais e de depósitos, onde a regulação das autoridades monetárias é mais eficaz.
De qualquer maneira, isto são ideias genéricas, eu não estou muito por dentro destas matérias.
vbm
Estás mais por dentro do que eu... e és mais sensato, já são duas vantagens. A minha vantagem é só ser mais reguila, o que às vezes tb é útil.
Eu prefiro a ideia de separar os bancos de investimento dos outros; porque a palavra "investimento" é enganadora, a actividade desses bancos é a especulação, é a predação de riqueza sem qualquer objectivo de a produzir; é como o jogo só que com regras muito mais fluídas.
Os bancos não estão interessados em emprestar aos Estados a 3%; estão interessados em emprestar ao juro mais alto que conseguirem. Como já disse várias vezes, eu sei que houve um assalto concertado às dívidas soberanas porque fui convidado a aderir a aplicações que tinham esse objectivo. Um dos banco que participou activamente foi o BCP, é por isso que está tão envolvido na questão grega. O que os bancos não previram foi a crise financeira!!! Isso é que lhes estragou os planos, porque sem isso estariam agora tranquilamente a cobrar uns 8% de taxa de juro às dívidas soberanas, pois era esse o valor que eu na altura, logo a seguir ao tratado de Lisboa, percebi que era o objectivo.
Em todos os modelos que façamos que temos de ter presente o seguinte: o mundo financeiro é gerido com base no lucro máximo no prazo mínimo. E não há escrúpulos nem limites: vale tudo, desde que gere lucros. Deixados "à solta", os financeiros não levam ao desenvolvimento da sociedade, levam à usurpação da toda a riqueza, ao empobrecimento da sociedade.
O problema não é deles - isto é o que acontece em todas as actividades humanas se não houver regras adequadas. O problema é das regras, da construção dos sistema, da organização em forças e contra-forças que se equilibrem. Já viste que no quadro europeu o sistema financeiro fica completamente autónomo e só faz o que lhe convém??? Só pode dar asneira, é por isso que é preciso que os Estados readquiram poder de intervenção; ou então passamos a eleger os governantes do BCE em vez dos políticos...
O euro, moeda dos países que a ela aderiram, difere das demais moedas nacionais porque não tem um Estado a dirigir uma política económica, monetária e orçamental. Apenas tem um banco emissor com a obrigação exclusiva de estabilizar o poder de compra da moeda.
A especulação financeira é menos inconveniente que o mal de que é desalmadamente acusada. Vê o caso da Grécia: as contas que editava eram uma fraude; foi correcto que se repudiasse a dívida do Estado. A fraude, cometeram-na os gregos, ou melhor, os seus governantes.
Diferente foi o caso português: não houve contabilidade nacional nem estatísticas falsificadas; inclusive, houve contenção do défice público em 2007; o descalabro de 2009 foi induzido pela União Europeia que recomendou aos Estados-membros que investissem e gastassem para afastar o perigo de uma depressão económica como a de 1929: e Sócrates não se fez rogado!
O teu plano da moeda interna a par do euro, com a emissão de “credi-euros” sobre o Estado, utilizável para pagar impostos e transacções entre nacionais, não vejo como propriamente funcionaria…
é que, por um lado, o euro enquanto regularizador de pagamentos entre nacionais, é moeda que sai de uns bolsos e entra noutros, sem consequência especial nenhuma, tal e qual seria com os tais “credi-euros”; por outro lado, tal moeda, a circular em paralelo com o euro, obedeceria à lei Gresham: «a má moeda expulsa a boa».
De facto, se o câmbio inicial fosse o da paridade, todos prefeririam entesourar euros e usar apenas “credi-euros”; a breve trecho, as economias dos aforradores de euros os cambiariam, petit à petit, por quantidades crescentes de “credi-euros” que acabariam por totalizar a circulação do dinheiro, com reforçado benefício dos “novos ricos”, os exportadores de bens e serviços.
Claro, a contra-vantagem era a de ainda mais intensificar o mercantilismo de importar o menos possível por os respectivos preços em “credi-euros” se tornarem incomportáveis. Mas para este desideratum, o IVA a 23% e o imposto sobre o petróleo já assegura a moderação desejável…
vbm
Diz-me lá, em tua opinião o que é que as contas gregas falsificadas têm a ver com a crise grega? A dívida era mais uns quantos por cento? E daí?
Para mim, a referência às contas falsificadas é uma desculpa, não tem nada a ver com os acontecimentos atuais. Se me conseguires mostrar uma relação causa-efeito...
Agora, contas falsificadas são as do sector financeiro, essas sim. Hoje, como toda a gente sabe, o facto de as contas de uma qq instituição financeira assegurarem a sua boa saúde não dá nenhuma garantia de que essa instituição não... declare falência amanhã!! porque é isso que tem acontecido sistematicamente.
A minha proposta dos créditos tem a grande vantagem de não diminuir o dinheiro em circulação e, logo, obviar à recessão. Parece-me que isso é demasiado óbvio para ser preciso explicar com muito detalhe.
esses créditos só funcionam no mercado interno; acontece que o PIB depende esmagadoramente da actividade económica interna, uma coisa que os nossos economistas parecem não saber de todo, pois só falam de exportação. A exportação só é necessária para ir buscar a moeda necessária à importação. Um país como a China, se tivesse petróleo e aço, podia esquecer as exportações, basta-lhe o mercado interno. Ou melhor, o planeta Terra não precisa de exportar nada para ter um PIB crescente, pois não?
É também por isso que as fábricas como a autoeuropa têm muito pouco interesse para a nossa economia, porque o diferencial entre o que importam e o que exportam é mínimo e o contributo para o mercado interno insignificante.
Temos sido cilindrados com constantes mentiras sobre economia e não é por acaso, é para nos enganar.
é por isso que a net faz a diferença, porque até agora os media têm servido para lavagem cerebral das pessoas.
Por exemplo, os estivadores estão em greve há 2 meses; já vistes algum media referir as razões da greve? Não, pois não? sabes porquê? Porque assim é fácil alimentar a ideia de que os estivadores são uns malandros que estão a lixar o país às ordens do PCP... mas será? Ou será que interessa a alguém que os estivadores estejam em greve e isso é facílimo de conseguir: basta querer impor alterações laborais inaceitáveis...
Para veres que eu provavelmente tenho razão só tens de olhar para o lado. Vê lá se os chineses deixam alguma empresa estrangeira entrar lá sem que eles a controlem... ou olha para as MEFO bills, qual é a diferença para o que eu proponho? Porque é que isso resultou para a alemanha e não pode resultar aqui?
Eu sei que isto vai contra tudo o que aprendeste; mas se o que tu aprendeste estivesse certo, como é que, em plena era da abundância, estamos a empobrecer??? Claro que os mesmos que nos andaram a enganar, agora arranjam culpados para a atual situação, como as contas dos gregos... têm de continuar a enganar-nos não é?
E deixa-me frisar uma coisa: não estou contra os alemães, eles são tão explorados como nós, o nível de vida na Alemanha é baixo; isto é uma guerra dos ricos contra o resto do mundo ou seja, nós...
O IVA não serve para equilibrar a balança externa porque é cego - caem as importações mas tb cai a economia, logo o PIB; e isto é tão mau como o desiquilíbrio da balança externa.
Uma coisa é certa e é preciso ser muito ingénuo para pensar doutra maneira: o nosso destino é igualzinho ao dos gregos. A continuar assim, a nossa recessão para o ano não vai ser de 3%, por ser de 6%. Ou tens alguma dúvida?? Lembro-te de que quando isto começou os gregos tinham um PIB per capita 1,7 vezes o nosso e uma balança externa equilibrada, estavam muitíssimo melhor do que nós. O que é que calculas que vá acontecer aqui para o ano?
A minha esperança é que o Gaspar não é parvo e aumento dos certificados de aforro é a primeira das medidas que vai tomar para mudar de rumo.. vamos a ver...
«o que é que as contas gregas falsificadas têm a ver com a crise grega? A dívida era mais uns quantos por cento? E daí?»
E daí, haveria que testar a solidariedade dos países da união monetária: resgatariam ou não os títulos gregos? A resposta foi não: cada Estado que responda pelo que deve; a menos que: se submeta a uma disciplina orçamental do dispêndio nacional; sendo que a existente — 3% défice máximo; 60% de dívida máxima — foi violada. E a relação de causa-efeito é a do reflexo cautelar de minimizar as perdas: não pagam; logo, endosso dos créditos à cotação menos ruinosa possível.
De facto, as contas dos bancos só na aparência exibem a solvabilidade que os lucros anuais indiciam. Os seus activos podem não valer o que custaram mas menos. Há regras de contabilização obrigatória —avaliação aos preços de mercado, suponho —, mas, é bom de ver, que esses preços podem continuar a cair em vez de estabilizar ou subir, ainda que estejam provisionadas as perdas pretéritas. Equilibrado é a participação dos bancos em carteiras financeiras ser diversificada e moderada.
A Europa está na mesma condição da China: precisa de exportar para pagar a importação de petróleo. O ideal seria tecnologizar a produção de energia sem custos nem inconvenientes maiores do que a do petróleo. Mas ainda assim parece-me surrealista a imensidão dos ganhos monopolistas que o mundo árabe aufere da exploração dos poços!
Do que ouço, dos estivadores, é uma luta dos mais bem pagos contra os menos bem pagos: estes demoram 17 anos a chegar ao topo da carreira, e encurtar tal prazo acarretará forçosamente a diminuição do actual leque salarial; opõem-se a isso os mais bem pagos. No entanto, se isto é assim ou não, ao certo não sei. Suspeito apenas que sim…
A questão do empobrecimento no meio da “abundância” parece uma contradição chocante e incompreensível, até que se perceba que não há abundância nenhuma: os recursos aumentam em progressão aritmética e a população em progressão geométrica: a miséria é inescapável; a menos que se arrepie caminho, controlando o crescimento demográfico — nomeadamente o “tsunami bantu” a caminho dos 1 600 000 000 de pessoas — e também o crescimento populaciona na Índia e nos países muçulmanos.
vbm
Quanto às contas gregas, tu mesmo disseste que as nossas estavam certas e estamos na mesma situação; e a dívida pública espanhola era de 60% do PIB, muito menor que a de muitos outros países. A questão é que não se encontra um ponto comum entre todos os países em crise a não ser.. serem do Sul. Pois que a crise da Irlanda parece ser muito diferente.
Em relação à banca, tu tentas defender a sua credibilidade, mas os factos gritam o contrário: o BPN não foi um caso isolado, pelo contrário, é um caso típico, apenas estoirou antes de outros. O BCP tb esteve envolvido em confusões, a UBS é o que se sabe, etc, etc. Não admira nada: assim como as empresas pagam bom preço por quem lhes consiga martelar as contas, os bancos pagam muito mais, vão buscar os seus génios directamente às universidades...
A ideia de que a população aumenta em progressão geométrica e os recursos em progressão aritmética foi talvez o argumento mais forte usado por quem quis provocar as guerras mundiais do século XX - o Hittler estava em pânico com a ideia, ao que parece, e por isso era preciso encontrar "espaço vital"
Só que hoje é o oposto! A população cresce em progressão geométrica? Onde?? Na ìndia e em África. O que é que isso tem a ver com a sociedade de abundância que temos aqui? Aqui, a população não cresce!!! Na china tb já não cresce. O problema inverteu-se, falta população para absorver o que se produz.
Aliás, o simples facto de a riqueza dos mais ricos continuar a crescer a 2 dígitos enquanto o resto das pessoas está a empobrecer mostra que algo não está a funcionar como deve - não queremos uma sociedade de empobrecimento.
Quanto aos estivadores, muito provavelmente terás razão; mas há uma coisa que me faz confusão, é que, ao que percebo, se trata de uma greve às horas extraordinárias. Ora que eu saiba, as horas extraordinárias por sistema são proibidas por lei. O funcionamento dos portos está dependente de horas extraordinárias?? E também não percebo porque é que esta greve só tem a ver com os portos daqui. Mas ninguém explica nada, não é? e isso ainda me faz mais confusão.
Quando se perde a confiança no sistema, é tramado,desconfia-se de tudo... eu percebo que tu não queres perder essa confiança mas eu não encontro a que me agarrar.
A evolução natural do mundo não está preocupada com as nossas opiniões e ilusões. Quem se recusa a ver e aceitar as coisas como elas são mais violentamente se sentirá desestruturado quando elas se tornarem gritantemente evidentes. Afinal a nossa época não era de estabilidade era, e é, de transicção e evolução. De acordo contigo, Alf.
A situação grega não é igual à portuguesa. Portugal vai pagar a dívida toda. E o BCE, no próximo ano, comprará todas as obrigações do Estado Português de que os bancos queiram desfazer-se. E a economia será estimulada seja por fundos europeus ou extra-europeus.
As contas dos bancos não são marteladas, expõem os resultados verificados. O BCP foi excepção e o BPN roubo. O método de escrituração da actividade bancária está normalizado contabilisticamente, como aliás o está o das empresas não financeiras.
Conheço de ouvir falar, essa motivação de guerra de Hitler, a pretensa necessidade de “espaço vital”. Não sei se é a mesma questão da sobrepopulação do planeta. Esta requer inversão completa de política demográfica: controlo de nascimentos ou incremento da mortalidade..A produção abundante que referes é provavelmente a da indústria de produção em série de bens maioritariamente sem nenhum interesse objectivo. Alimentação, abrigo, instrução e cultura, isso são bens incompatíveis com tsunamis populacionais.
A confiança no sistema político e económico deve temperar-se com a atenção crítica aos factos. A comunicação social e televisiva é manipuladora e manipulada pelos detentores do poder. Concordo contigo quão valioso os cidadãos discutirem entre si a governação a que estão submetidos. Era o que cumpriria ser feito nos partidos políticos, só que estes viraram em máquinas eleitorais e de angariação de empregos. Lamento ainda não me aperceber que nova classe social será portadora do desenvolvimento civilizacional.
A situação grega não é igual à portuguesa. Portugal vai pagar a dívida toda. E o BCE, no próximo ano, comprará todas as obrigações do Estado Português de que os bancos queiram desfazer-se. E a economia será estimulada seja por fundos europeus ou extra-europeus.
As contas dos bancos não são marteladas, expõem os resultados verificados. O BCP foi excepção e o BPN roubo. O método de escrituração da actividade bancária está normalizado contabilisticamente, como aliás o está o das empresas não financeiras.
Conheço de ouvir falar, essa motivação de guerra de Hitler, a pretensa necessidade de “espaço vital”. Não sei se é a mesma questão da sobrepopulação do planeta. Esta requer inversão completa de política demográfica: controlo de nascimentos ou incremento da mortalidade..A produção abundante que referes é provavelmente a da indústria de produção em série de bens maioritariamente sem nenhum interesse objectivo. Alimentação, abrigo, instrução e cultura, isso são bens incompatíveis com tsunamis populacionais.
A confiança no sistema político e económico deve temperar-se com a atenção crítica aos factos. A comunicação social e televisiva é manipuladora e manipulada pelos detentores do poder. Concordo contigo quão valioso os cidadãos discutirem entre si a governação a que estão submetidos. Era o que cumpriria ser feito nos partidos políticos, só que estes viraram em máquinas eleitorais e de angariação de empregos. Lamento ainda não me aperceber que nova classe social será portadora do desenvolvimento civilizacional.
Paulo Monteiro
Vê isto
http://www.urbi.ubi.pt/pag/10728
uma análise impressionante do imperialismo alemão
vbm
Eu até tenho receio de te desfazer as ilusões... mas aqui vai
os projectos alemães de "revitalização" da nossa economia consiste na instalação cá de empresas a pagarem 2 euros / hora, sem direitos laborais, e com isenção de impostos. Isto é escravatura mas não faltará quem diga: "ahhh, e já é muito bom pagarem isso, sempre é melhor que nada..." A estupidez humana é mesmo ilimitada, a única coisa de que o Einstein tinha a certeza.
O tsunami populacional é um disparate. A população mundial só não tem controlo de natalidade na India,uns arredores no sul da Ásia, e em África; mas nessas zonas as pessoas vivem - ou não - dos recursos que aí existem, são irrelevantes para os Europeus.
a produção de alimentos é altamente excedentária - é por isso que nem vale a pena produzi-los, é por isso que a nossa agricultura está de rastos, é por isso que a Europa paga aos agricultores para estarem quietos. Desde que se aprendeu a fabricar adubos, a alimentação deixou de ser um problema.
Quanto às contas dos bancos, recordo-te que os que agora dizes que foram um roubo ou trafulhisse, dirias que eram rigorosos na véspera de se saber; o Rendeiro até lançou um livro a explicar o sucesso do BPP... na véspera do banco fechar!!! Num dia era um sucesso noticiado por todos os media, no dia seguinte um estouro!!
Porque razão hás de pensar que aqueles que agora se afirmam um sucesso não são iguais? Por causa das auditorias? os outros tb as tinham e no entanto...
Os americanos andam atrás do Deutsche banck. Acho que já muita gente percebeu que há grosso problema com ele. Mas claro, será escondido enquanto puder ser.
As pessoas abusam sempre do poder que têm; é isso que temos de ter na cabeça, não adianta fazermos raciocínios baseados na nossa experiência pessoal de pessoas com poder muito limitado; eu já vi os efeitos do poder sobre as pessoas, sei do que quase qualquer pessoa com algum poder acima da média se torna capaz de fazer. E é assustador. E sei tb o que as pessoas são capazes de fazer quando os seus interesses estão em jogo.
Talvez tenhas interesse neste link:
http://www.urbi.ubi.pt/pag/10728
é uma resenha de análises do imperialismo alemão... muito antigas mas muito atuais. Algo que me parece que a tua vertente filosófica e o teu interesse pela sociedade humana vão gostar de ver; eu gostei bastante.
:) Obrigado, alf. Comentário gentil e de persuasão.
O ‘projecto’ de escravização laboral dos estrangeiros em Potugal
é bem fácil de repudiar: a tiro. Não tenho a menor das dúvidas.
O tsunami de sobrepopulação é um evento em curso, e silenciado; nos países
que listaste: Índia, Ásia do Sudeste, África; também nos países nussulmanos.
Em todo o caso, na ausência de uma política demográfica lúcida,
a resistência dos vírus aos antibióticos encarregar-se-á
de equilibrar a progressão dos recursos/necessidades.
Nunca ouvi dizer que houvesse potencialidade excedentária
de produzir alimentos é altamente, e que os químicos
não prejudicassem a regeneração dos solos!
Mas se for verdade, antes assim.
Tens razão em manter descrença na veracidade de contas
patrimoniais e de exploração porque, de facto, apesar
de normalizados os procedimentos de escrita,
é sempre possível a fraude, a corrupção,
e o embuste rebuscado.
No entanto, as normas existem e dificultam
quer as fraudes quer as fantasias.
Foi de ti que ouvi, e até hoje só de ti,
estar o Deutsche Banck em risco de falência,
e confesso que tal é altamente verosímil.
Por exemplo, do BCP sempre ouvi,
de há muitos anos, e à boca pequena,
estar na eminência de falir. E como
agora sabemos, escondeu das contas
a sua real situação. Mais: não creio
que o Victor Constâncio o ignorasse.
Deve ter tido medo de provocar
uma crise, se interviesse.
Uma cobardia.
As pessoas pode abusar do poder que têm,
mas podes crer que se arriscam a apanhar
um «tiro nos cornos».
Hás-de ler um livro de um sobrinho do Raúl Solnado,
Renato Solnado, intitulado “Com a arma de Bogart”.
Conta a história de um paciente empregado
de um patrão intolerável que acaba
por resolver o seu dilema com
o desfecho à Bogart
em Casablanca! :)
De resto, com menos paciência,
foi essa a solução do caseiro
do Champalimaud
em relação ao
filho patrão.
E mais, a técnica da desobediência civil
está teorizada desde o século xvii,
por Étienne de la Boétie, o amigo
e mentor de Michel Montaigne.
Os exploradores que se cuidem!
Agora, tudo isto é pura verdade política.
A que há-de juntar-se para a perfeição
da prática, o saber e a justiça.
vbm
Aprecio o teu bom senso, que a mim me falta geralmente.
Ando a ouvir muito por aí, em cafés, nos transportes, etc, que só há uma maneira de controlar os políticos: a tiro.
isto porque eles estão todos ao serviço de interesses que não são os dos governados. A única maneira de os colocar ao serviço das pessoas é eles terem medo - medo de que alguém lhes dê um tiro.
Mas eu não estou nessa. As coisas correm mal porque o sistema está mal feito e é preciso perceber bem o problema para lhe encontrar a solução. Sem isso, volta sempre tudo ao mesmo.
Estas nossas conversas fizeram-me mudar o curso das coisas que eu ia publicar aqui; talvez seja mais interessante falar da natureza humana, creio que é aí que reside o cerne do problema.
É muito importante perceber os problemas, equacioná-los de modo a extrair soluções razoáveis.
A violência é uma arte, a desobediência, uma arma, e os tiros, desfecho com frequência apropriado.
A junção das duas vertentes formam a verdade da política, que requer saber e justiça.
Quem se adensa na realidade política, em breve aprofunda o conhecimento da natureza humana.
Então se compreende
como uma sociedade justa
depende da capacidade
de impor o respeito
pela liberdade.
de cada um.
É claro que a psicologia humana é sempre o ponto fulcral, daí a famosa frase: "Mudar o mundo, mudando o coração do Homem!"
Quanto à moeda local, há algumas novidades a relatar, pois parece haver planos para avançar com essa ideia em alguns sítios cá. De resto, existe quem se esteja a movimentar nesse sentido e ainda com outros objetivos mais vastos, mas por agora não sei adiantar pormenores.
Para a semana, devo ter mais tempo livre para comentar e escrever acerca disso.
Recebi há pouco um mail a anunciar o lançamento de um livro, cujo tema deve ter a ver com muito do que por aqui se diz.
"Plano C: O combate da cidadania", editado pela Bertrand e que será lançado em Lisboa, dia 28, e depois em mais 16 cidades do país.
Together we rise, divided we fall... so let's gather our common effort and good will for one and all! :)
Eis um vídeo de Bernard Lietaer onde ele explica de forma muito simples como é que a moeda complementar representa a diversidade que o atual sistema monetário necessita para superar as crises constantes, cuja origem reside na sua própria estrutura - muita eficiência mas pouca resiliência.
TEDxBerlin - Bernard Lietaer - 11/30/09
Mais moeda local em Portugal!
Neste site que descobri hoje - Community exchange - refere-se a existência de dinheiro comunitário (Eco) em Algés e Vila Real. Já escrevi aos administradores dos sistemas a pedir algumas informações.
Mas o mais surpreendente é a super-abundância de moeda local em Espanha... 108 em tudo quanto é sítio! Será que tal fenómeno está associado à altíssima taxa de desemprego lá? Ou eles são mais associativos, ao contrário de nós?!
Bem, vou investigar... eu sou bom é a cuscar! :)
vbm
"Então se compreende
como uma sociedade justa
depende da capacidade
de impor o respeito
pela liberdade.
de cada um."
É isso mesmo. Tão simples e tão complicado como isso. Nós estamos programados para agir em função do nosso interesse e temos de aprender que o nosso interesse reside nisso.
leprechaun
Ena, que coisas interessantes que andas a descobrir!
Agora, há um aspecto sobre o qual te desejo chamar a atenção: muitas das moedas locais não visam outra coisa que não seja a fuga aos impostos. é o caso, por exemplo, dos tickets- refeição ou dos automóveis dos quadros superiores.
Não deixam de ter uma contribuição para o desenvolvimento da economia, mas é a custa do dinheiro que deixa de entrar no Estado.
O que eu proponho é diferente e tem o efeito e o objectivo de aumentar as receitas do Estado
Quando o Estado paga os subsídios em moeda local em vez se simplesmente os não pagar, está a fomentar a economia interna e há um factor multiplicativo que o próprio FMI contabiliza em 1,3; ou seja, se cortas os subsídios, degradas a economia em 1,3 vezes esse corte, se os pagas, aumentas a economia 1,3 vezes esse montante.
Com moeda local, do Estado, evitas que esse acréscimo vá embora- para offshores e para produtos importados. Se o Estado pagar os subsídios em Euros, o acréscimo da economia vai-se embora, porque "o capital não tem pátria", e a dívida do Estado agrava-se. Este é que é o problema que é preciso estancar e isso não é possível com o Euro como está desenhado - é por isso que eu digo que é um "sangue envenenado". Precisamos de pôr outro sangue a circular. O Estado precisa de pôr outro sangue a circular porque não se aguenta nas veias, sofre de hemofilia! E com ele teremos de andar sempre a sofrer transfusões de sangue mas estaremos sempre doentes.
Saber pesquisar é uma das minhas competências, logo vou descobrindo aquilo que interessa.
Mas há mais gente qualificada que busca alternativas económicas e outras. Tens contactos com pessoas assim ou preferes singrar sozinho este caminho? Posso dar-te algumas indicações concretas, tanto aqui do norte como de Lisboa. Afinal, 2 cabeças pensam melhor do que uma e essa é também a intenção deste blog... partilhar para descobrir e encontrar!
vbm
A propósito da agricultura talvez te interesse este meu texto muito antigo:
http://outramargem-alf.blogspot.pt/2007/05/o-ciclo-das-fezes.html
leprechaun
Obrigado. Tenho sempre interesse em contactar com pessoas que partilham as minhas preocupações; não quero é desiludir ninguém, eu estou muito ocupado com outras coisas; mas preciso de compreender este processo e agradeço toda a ajuda.
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