sexta-feira, março 30, 2012

Manda quem for O Mais Rico

D. Dinis, o "Rei Rico"


Há tempos, vi uma reportagem na TV onde um jornalista perguntava a um angolano se achava bem que o J. Eduardo dos Santos (JES) fosse a pessoa mais rica de Angola; a resposta, dada com toda a tranquilidade, foi: se fosse outro o mais rico, seria outro a mandar.

Esse angolano está certíssimo mas nós, com a cabeça cheia de utopias simplórias e ideias erradas, não percebemos que essa é tendencialmente a realidade. Não é o Puttin o mais rico da Rússia? A sua fortuna pessoal passou do zero às dezenas de milhares de milhões de euros em duas décadas... Os Bush e os Kennedy não são das famílias mais ricas dos EUA? O candidato republicano Mitt Romney também tem uma fortuna pessoal de umas centenas de milhões de euros... que se saiba...

A história mostra que a riqueza é indispensável ao Poder, mesmo a nossa: o rei D. Dinis, na sequência do esforço iniciado por D. Afonso II, tratou de se tornar o mais rico do país, enfrentando nobres e clero, e assim ter o poder que lhe permitiu, graças à sua enorme visão política, fazer finalmente de Portugal um país.

A Igreja Católica tornou-se poderosa porque enriqueceu; aqueles que criticam a riqueza da Igreja percebem muito pouco do ser humano; e a ostentação da riqueza é tão essencial à Igreja como a qualquer pessoa que queira ter poder pessoal.

O Poder escorre para as mãos dos ricos naturalmente; qualquer pequenina manifestação de riqueza dá logo vantagem. Os ricos não têm de fazer nada para terem mais poder, são as outras pessoas que se apressam a elevá-los, a endeusá-los. Além disso, a verdade é que a generalidade das pessoas se vende, a honestidade é um mito que se alimenta da falta de oportunidade, toda a pessoa (as eventuais excepções são irrelevantes) tem o seu preço.

Esta relação entre poder e riqueza existe à escala dos países – o país mais poderoso é o que for mais rico. Na Europa, é a Alemanha; no mundo, são os EUA. E ser mais rico é evidentemente uma vantagem porque o mais rico tem mais capacidade de enriquecer do que os outros. A única forma de um país menos rico não ser esmagado nesta economia é violando as suas regras, que é o que fazem todos os países, protegendo as suas actividades internas e gerindo a globalização na medida dos seus interesses. A comunidade europeia faz o mesmo em relação à sua fronteira externa, enquanto internamente franceses e alemães enriquecem à custa dos países do sul do Europa, que deixaram de proteger os seus interesses; os pequenos países da CE desenvolveram esquemas que lhes permitem subsistir parasitando os outros países, nomeadamente através das offshores que criam e mantêm em territórios fora do controlo económico.

O sistema democrático visa ultrapassar o maior problema das sociedades humanas: o abuso do poder, tornando-o temporário, limitado, e acessível a qualquer pessoa que as outras entendam ser a mais adequada. Mas quem é escolhido para governar tem de ter poder e isso só é possível se, enquanto governante, for o mais rico –  o Estado tem de ser mais rico que o mais rico dos ricos. Como é que os pais fundadores da democracia conseguiram isso? De diversas maneiras, nomeadamente estas 3: impostos, leis anti-monopólio e o poder de emitir dinheiro, através do controlo do “banco central”; esta é a pedra de toque do poder do Estado.

No entanto, se essas medidas garantiam poder aos vencedores das eleições, não impediam que quem for mais rico tenha mais capacidade de ganhar eleições; e, assim, e por diversos caminhos, os mais ricos passaram geralmente a controlar o poder político. O sistema americano dá a um candidato a possibilidade de ser momentaneamente rico com as doações para a campanha, o que teoricamente dá a qualquer pessoa a possibilidade de fazer frente aos ricos.

Como se sabe, o poder exerce uma enorme atração e, por isso, não falta quem se julgue como o mais capaz de exercer o poder. Os Reis e os Religiosos, porque são uma emanação de Deus, os Militares porque a Força está com eles, os Cientistas porque são donos do Conhecimento, os Juízes porque são o poder acima de todos os outros, os Tecnocratas porque são eles que fazem as coisas, os Financeiros porque são eles quem controla o dinheiro. Todos eles já sonharam conquistar o poder político, directa ou indirectamente.

Porém, agora está a ocorrer algo de novo!

Se existe esta relação directa entre riqueza e poder, então para quê perder tempo com o poder político? Se se puder ser mais rico que os Estados, comanda-se o Mundo; o papel dos políticos é tornado inútil, e com eles esse custo improdutivo representado pelas eleições, o mundo gere-se como se fosse uma grande empresa.

Como é que se pode ser mais rico que os Estados? Controlando os bancos centrais e sobrecarregando os Estados com despesas para que as receitas de impostos se tornem insuficientes. Por isso, a obtenção do poder absoluto, a capacidade de regular os destinos do mundo, passa por estas duas únicas coisas; e quem é pode conseguir isto? Apenas os Financeiros.

Notemos que os Financeiros já conseguiram ser donos de quase tudo – neste mundo competitivo todas as empresas têm de recorrer à banca para aumentarem a sua capacidade competitiva; mas ao fazê-lo colocam-se na dependência destes e acabam controladas pelos bancos. É por isso que actualmente quase todas as grandes empresas são controladas por grupos financeiros. Um pequeno número de grupos financeiros domina quase toda a actividade económica; as leis anti-monopólio perderam a eficácia porque as empresas "concorrentes" têm por detrás, em muitos casos, os mesmos grupos. Este pilar do poder do Estado já caiu.

No próximo post vamos ver o esquema genial inventado pelos financeiros para controlarem totalmente o mundo ocidental.

Notemos que os financeiros não são “os maus” – eles são tão “maus” como todos nós sempre prontos a abusar do poder, disponíveis para ficarmos mais ricos se surgir a oportunidade (apenas a falta desta nos alimenta a ilusão de que “somos melhores”); mas foram mais espertos e conseguiram aquilo que nós não conseguimos; porém, se continuarmos a ser burros, vamos ter uma vidinha miserável, por isso é melhor que comecemos a abrir os olhos.

12 comentários:

Peter disse...

Excelente artigo que li com prazer. Há muitos pontos a salientar, mas permito-me citar este:
"Se existe esta relação directa entre riqueza e poder, então para quê perder tempo com o poder político? Se se puder ser mais rico que os Estados, comanda-se o Mundo; o papel dos políticos é tornado inútil, e com eles esse custo improdutivo representado pelas eleições, o mundo gere-se como se fosse uma grande empresa."
Aguardo o próximo artigo.

alf disse...

Peter

Obrigado pelo seu interesse.
Abraço

alf disse...

Diogo

Obrigado por me "acordar" lol

Como vê, você manda e eu obedeço! Aqui está um novo texto
Abraço

Peter disse...

Estive lendo viagemfuturo@gmail.com
Recebi há tempos um pps muito interessante sobre o assunto. Não sei se ainda para aí o tenho.
Através do "outra física" cheguei ao artigo que publicou. É pena ser escrito em inglês. Por isso e por ser demasiado extenso, vou ter dificuldade em lê-lo, passando por cima das equações, claro.

alf disse...

Peter

Estou a acabar uma versão que penso será mais fácil de ler; depois faço também uma versão resumida e outra em português; só nessa altura é que valerá a pena, até lá ainda é uma obra em construção...
Agradeço o seu interesse, quando a "coisa" estiver "pronta para consumo" eu aviso!
Abraço

Joaquim Simões disse...

Ora bem... Nem mais!
Grande abraço.

alf disse...

Joaquim Simões

Grande abraço! Seja bem reaparecido.

antónio ganhão disse...

Essa é a marca dos países subdesenvolvidos: os pobres vão para o poder para ficar ricos (servindo os que efetivamnete, pela sua riqueza, detêm o poder), e nos países desemvolvidos os ricos vão para o poder porque assumem aquilo que já lhes pertence, dando a cara por todos.

alf disse...

antonio

sim.. só que os ricos não usam a política para ter o poder, o poder deles está acima do poder político; e, na europa, onde o seu poder é máximo, já conseguem colocar a governar os países quem eles entendem, como aconteceu na Grécia e na Itália, sem eleições. Noutros lados fazem eleger os seus "homens de mão".

Diogo disse...

Alf disse... Diogo, Obrigado por me "acordar" lol, Como vê, você manda e eu obedeço! Aqui está um novo texto.


Mas está muito incompleto. E com falsas premissas.

Acho que você está maduro para finalmente ver o vídeo – The Money Masters (legendado em português). Eu vi-o mais de 20 vezes. Você deveria vê-lo mais de 30 vezes…

Abraço

Anónimo disse...

Um dos bloggers mais lúcidos do espaço interactivo e que, ainda por cima, escreve bem e desembaraçadamente. Por isso venho aqui sempre, embora só agora o diga.
Matias Sandorf

Anónimo disse...

Eu quase que admiro o Socas, coitadito - ter tanto mando e poder de escangalhar e apenas uns vagos milhões, ao que dizem e eu repito sem maldade. É um herói, um vero português, um bom exemplo do desenrascanço que caracteriza o portuguesito típico. Os ricalhaços deviam aprender com ele. Frunicar-nos a todos com meia-dúzia de tostões lambidos (digamos)...é de geniaço carago!
Económico como a porrinha e que demonstra que se pode fazer carreira na sacanice estando de bolsa frugal. Um beirão comme il faut.

Dulcineia Toboso