quarta-feira, fevereiro 04, 2009

O Novo Paradigma - A Sociedade sem Operários


Tractor John Fowler


Alguns dos mais jovens leitores não o saberão, mas apenas há poucas décadas atrás a percentagem de trabalhadores agícolas em Portugal era mais de 10 vezes a actual.
Nos países pouco desenvolvidos a percentagem de trabalhadores agrícolas pode ser de 80% da população activa, e passarem fome; nos países desenvolvidos pode ser menos de 3% e terem sobreprodução.

A agricultura sofreu uma revolução profunda nas últimas décadas. A sua eficiência cresceu espantosamente. As novas empresas agrícolas tornaram obsoletos os agricultores clássicos (algo semelhante se passou com as pescas).

Foi isto um drama social?

Nos países mais avançados, a mudança do paradigma agrícola nem exigiu nenhum esforço de adaptação – as novas gerações tinham sido preparadas para o futuro e, naturalmente, não sucederam aos seus pais camponeses – a escola não preparou camponeses nesses países.

Já o mesmo não aconteceu em países menos avançados, nomeadamente Portugal. Porque em Portugal, o sistema de ensino preparou sempre para o passado e nunca para o futuro. O sistema de ensino português rejeita perto de metade da população, ou seja, condena metade da população a ser camponês ou operário. Por isso, foi preciso subsidiar essas pessoas, pagar a sua inactividade. E em Portugal houve perda de riqueza, porque agora a nossa agricultura produz menos do que antes – não porque não possa produzir mais, mas por questões de mercado e da tradicional incompetência da política/economia nacionais.
Nos países avançados, a mão-de-obra que desapareceu da Agricultura surgiu noutro nível de competência profissional, com as qualificações necessárias à sociedade do presente e do futuro.
Em Portugal, houve apenas uma passagem da Agricultura para a Produção Industrial. Os camponeses transformaram-se em operários. Não houve qualificação para o futuro para metade da população.

Os camponeses acabaram, agora vão acabar os operários. É o passo final da Revolução Industrial.

Mais uma vez, para os países avançados, isso é apenas a ordem natural da coisas; pois eles fazem o futuro, não são atropelados por ele. Nesses países já quase não há operários, têm de recorrer à imigração para manter as unidades de produção que ainda conservam. Agora, irão limitar-se a devolver os imigrantes aos países de origem.

Porque é que acabam os operários de repente?
Já há bastante tempo que se anda a produzir demais, produção esta que só consegue ser escoada à custa de intenso marketing. Mas este consumismo crescente entrou em rota de colisão com a desigualdade crescente e tornou-se insustentável. Por outro lado, enquanto antigamente uma fábrica era uma casa com máquinas e operários, agora é uma máquina. As «fábricas» estão a ser substituídas por uma «máquina», que já não tem operários mas operadores qualificados.

Mais uma vez, num quadro global, isto não é drama nenhum. Nem se trata de uma quebra de produção de riqueza – novas áreas de produção vão surgir compensando a quebra das tradicionais, por exemplo, menos automóveis e mais geradores eólicos e solares. O redução brutal do número de operários não é um problema, o problema seria arranjar operários - quem é que, num país avançado, ainda quer ser operário? O fim do duro e repetitivo trabalho operário é um objectivo duma sociedade melhor.

Porém, em Portugal, (e noutros países atrasados) isto vai ser um problema complicado. Porque em Portugal continuamos a ter metade da população que ou trabalha como operário ou não trabalha.

Além disso, grande parte deste emprego é em unidades de produção de multinacionais. Que são apenas peças de uma estrutura maior. Vão fechar, ou vão reduzir pessoal, sem apelo nem agravo.

Para fazer face ao que vai acontecer nos países que, como Portugal, são atropelados pelo Futuro, a União Europeia poderia pôr de pé um PIC – Programa Industrial Comum. À semelhança do que fez com a agricultura. Mas os tempos do PAC eram outros, a solução para hoje terá de ser diferente. E Portugal vai ter de conseguir que a UE ponha a mão nisto. O que vai ser muito difícil com a actual crise do sistema económico.

Porque é que uns paises fazem o futuro e outros são atropelados por ele?
A resposta está na vontade da sociedade de conseguir um futuro melhor. Os países que fazem o futuro são aqueles que querem ser uma sociedade melhor e, para isso, desenvolveram novos conceitos de formação, que preparam as pessoas para o futuro e não para o passado. Já o Séneca disse que a escola ensina para a escola e não para a vida, e assim foi por todo o lado e por todo o tempo até que em alguns países o ensino começou a mudar, tornando-se fonte de progresso. Em Portugal ainda se vê a máquina de calcular nas escolas como um maléfico artefacto... ainda se começa a ensinar a ler só aos 6 anos de idade... ainda se pensa que é mais importante ler romances do que saber o que é electricidade...

Previsão de 8,5% de desemprego em Portugal?... alguém está muito iludido ou sabe coisas que eu ignoro..

Mas comecemos a fazer alguma coisa para ajudar... como consumir só produto nacional, mesmo que seja mais caro. Nós não estamos numa economia global – a riqueza gerada na Alemanha não suporta os nossos desempregados, e se a economia não é global, o mercado também não pode ser!!

Ahh, é verdade, tem toda a razão o deputado do PS que se escandaliza com as compras feitas pelos governos em dinheiro – seja de material de guerra ou de aviões para a TAP. Os Governos não fazem compras em dinheiro, o dinheiro é para os privados! Os Governos trocam bens e serviços entre si!!! E os concursos públicos são para serem ganhos por empresas nacionais! Estou a lembrar-me da barraca do Jorge Sampaio, quando pediu aos espanhóis que deixassem as empresas portuguesas ganharem ao menos um concurso em Espanha... será que já aprenderam a lição?

11 comentários:

antonio ganhão disse...

O problema são os 0,001% que conseguem dar asas à sua ganância, e agora mais do que nunca à custa da miséria alheia!

alf disse...

vejamos.. a teoria económica em que vivemos assenta nisso mesmo, na ideia de que cada um deve dar asas à sua ganância, ser egoísta, porque se cada um tratar de si a sociedade no seu conjunto evoluirá.

A diferença está sobretudo em que uns são mais bem sucedidos que outros; retire esses 0,001% e tudo ficará na mesma porque outros ocuparão o seu lugar.

num próximo post procurarei mostrar porque, em meu entender, essa teoria que tem marcado a economia desde o começo da revolução industrial está errada e leva ao colapso.

As teorias económicas, embora não sejam ensinadas nas escolas, são a coisa mais importante que existe, são elas que ditam o futuro - incluindo as guerras.

Diógenes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diogo disse...

Caro Alf,

Estou de acordo com três quartos do post. Depois é a (sua) baralhação do costume (evidentemente que há países mais evoluídos do que outros).

É evidente que o homem agrícola foi substituído pelo operário da fábrica, e este foi substituído homem do escritório. E depois? Parou a história? Ou a máquina substitui-los-á a todos? Quais são os limites da tecnologia? Haverá alguns?

O homem não será um semi-deus dentro em pouco?

Ps: até quando é você vai continuar a votar em ladrões?

alf disse...

Diogo


O problema é que se está a acabar o mercado para o produto «operário» e nós temos o «armazém» cheio deles; pior, temos uma «fábrica» que continua furiosamente a produzir operários numa época em que eles já não necessários - o nosso sistema de ensino.

Por isso é que o sistema de ensino (que começa no pre-primário) tem de mudar e por isso é que temos de tomar medidas dificieis para encontrar solução para os operários que temos aos milhões.

PS - o bom ladrão é aquele que convence os tontos a culpar outro do seu roubo; até quando você vai continuar a ir na conversa dos verdadeiros ladrões?

Diogo disse...

É verdade, meu caro, temos de deixar de produzir na escola-fábrica operários e trabalhadores de qualquer espécie. A máquina produzirá. Só temos de ensinar, talvez, a ensinar as pessoas a servirem-se – a caixa multibanco elevada ao infinito.

Eu não vou na conversa nem dos bons nem dos maus ladrões. Tenho lido e escrito alguma coisa acerca da finança. Você é que continua a ir na conversa dos grandes ladrões através do voto em pilha-galinhas (funcionários dos primeiros).

Joaninha disse...

Alf,

O problema é bastante mais grave do que aponta, pelo menos no que toca ao ensino.

Quando dizes:

"ainda se começa a ensinar a ler só aos 6 anos de idade... ainda se pensa que é mais importante ler romances do que saber o que é electricidade..."

É muito importante ler romances porque é muito importante saber ler, saber interpretar o que se lê e saber escrever o que se pensa, sem isso ninguem está preparado para entra na vida activa. Mas não é romances que eles leem na escola, são reportagens escritas por jornalistas que não sabem escrever. São coisas como texto da floribela e companhia limitada. Põe um desses miudos a lêr um romance e ele não passa da 1ª pagina, porque pura e simplesmente não sabe LER.

A maquina de calcular é um horror sim, porque os alunos não sabem porque é que 2+2 são 4. Sabem é que se carregarem no botão 2 e depois no botão + e depois no 2 e seguidamente no = aparece-lhes um 4. Isto é assustador. E não se passa nos paises ditos mais evoluidos...

beijos

alf disse...

Diogo

temos de deixar de produzir «mão-de-obra» e temos de passar a produzir pessoas com conhecimentos que as tornem capazes de actuar sobre a sociedade que vamos construindo e sobre as suas máquinas.

Vou dar-lhe uma analogia: a Natureza fez o seu trabalho da bactéria ao Homem; com o Homem criou finalmente a máquina que pode executar parte das suas tarefas - cabe por isso agora ao Homem continuar o caminho... para onde, não sei ao certo, mas sei que é preciso ir em frente, fazer um Futuro que não é a repetição do passado mas a sua evolução.

O Ensino tem de habilitar as pessoas para essa exigente tarefa de fazer o futuro.

alf disse...

Joaninha

ena, temos pano para mangas...

Quanto à literatura:o objectivo da escrita é comunicar. Uma pessoa lê para obter algo que lhe interessa. E o que interessa Às pessoas é muito variado e depende da fase da vida.

Não me interessa ler o Harry Potter, mas tem interessado a muitíssima juventude; há uma fase na adolescência em que nos interessa ler o que suporte e estimule a nossa fantasia nessa altura delirante.

Para os mais novos, a banda desenhada será o ideal - mas criou-se o estigma de que é leitura para estúpidos...

Ler textos de jornalistas parece-me bem. Eu presto muita atenção à forma deles escreverem, porque geralmente os seus textos são muito bem construídos. O Jornalismo não é uma forma menor de escrever, bem pelo contrário.

Também há literatura como arte. Como a Música ou a Pintura. Isso é completamente subjectivo. Uma pessoa pode gostar deste genero literário e detestar o outro, tal como pode gostar dum estilo musical e detestar outro, o mesmo com a pintura. Ou pode não se gostar de estilo nenhum, seja de literatura, musica ou pintura.

Ler por ler é para tótós ou para amantes da arte. De mim mesmo eu digo que rarissimamente leio, apenas consulto livros. Mas consulto muitos livros...

Usar a máquina de calcular ou decorar a tabuada é o mesmo do ponto de vista da compreensão. Uma pessoa recorre à máquina ou a tabuada conforme lhe dá mais jeito - não vês os empregados de café a ir buscar a máquina para fazer a conta do cliente, não é verdade? Porque não é prático, o que é prático é saber a tabuada.

Os alunos não são máquinas de memorizar, o nosso cérebro não funciona assim - funciona movido pelo interesse.

O papel do mestre é fazer o aluno enfrentar problemas que lhe interessam e ajudá-lo a encontrar a solução.

Ensinar a tabuada? É fazer jogos, competição entre os alunos, motivar-lhes o interesse.

Isso não tem nada a ver com a máquina de calcular.

Os nossos professores pensam que a sua função é «dar a matéria». Que disparate. Dar a quem não está interessado em receber?

Dantes havia a ameaça de exames e castigos que estabelecia o «interesse»; hoje não há isso mas muitos professores continuam a ensinar como se houvesse.

O professor coloca aos alunos desafios e ajuda-os. É assim que se ensina.

Mas muitos professores ainda são uma espécie de «stand alone comedy» e os alunos a assistência de um espectáculo em que não estão interessados. Tadinhos, passam os dias a gramar espectáculos de teatro sem interesse. Assim não dá.

A alternativa ao medo é a motivação. É muito mais difícil usar a motivação do que o medo. Ser professor exige muita sabedoria. Não é nada fácil.

E há outra coisa: as crianças têm de ser levadas a pôr os neurónios a funcionar o mais cedo possível. Senão, depois não há sinapses para «compreender»...é por isso que 6 anos é tarde demais para o que vai ser exigido a esses cerebrozinhos, servia muito bem no antigamente, qd pouco havia para aprender. Mas não serve hoje. Aos 8 anos já muitas funções cerebrais estão definitivamente estabelecidas.

Beijinhos, não te zangues com as minhas ideias radicais hehe..

Joaninha disse...

Alf, eu nunca me zango (pelo menos não com pessas inteligentes, lá com broncos é outra conversa)

O que eu queria dizer com a floribela, não nada contra a banda desenhada, é sim contra o "que fixe" e o "bora lá" e semelhantes, que é o que os miudos leem hoje em dia e que não me parece ajude em nada à sua preparação para o futuro.

O texto jornalistico é muito bom, quando é bom e bem redigido, o problema é que hoje em dia, regra geral está mal redigido e mal escrito. Depois, tu não podes limitar-te a ensinar os miudos a escrever texto expositivos de jornalista. Tens de os ensinar a mexer a brincar a tirar o maximo de proveito da ferramenta de comunicação que é a escrita e, já agora, da maneira correcta ;)

beijos (agora não tenho tempo para mais, continuo depois) hehehe

Joaninha disse...

então senhor ET?

que se passa?

beijos