(imagem da Wiki)
Oláa ....vislumbrei um caminho e ripostei de imediato: Como não? Há lá coisa mais transcendente do que as explicações que os cientistas apresentam do Universo? O que os bruxos mais esotéricos conseguem inventar não chega aos calcanhares da imaginação de alguns cientistas!
- De que raio estás tu a falar?!? – exaltou-se o Mário.
Fazendo o meu melhor para aparentar profunda admiração pelo espanto do Mário, respondi calmamente:
- então, o que há de mais transcendente que os espaço-tempo curvos, os universos a 11 e mais dimensões, os universos paralelos, os universos que chocam, isto para não falar em coisas mais especificas como a teoria da inflação, a matéria negra, a energia negra e ...
- Isso é completamente diferente – interrompeu-me o Mário, o olhar tornado metálico pela irritação – a natureza é como é e não como nós queremos, não está limitada pelas nossas limitadas capacidades de compreensão.
Respirou fundo e continuou em tom suave – claro que compreendo que as pessoas sem suficiente formação científica não sejam capazes de entender essas avançadas teorias e hipóteses....
Ele estava exactamente onde eu pretendia. Rezando para não trocar os pés pelas mãos neste momento crucial, afirmei solenemente:
- A Ciência actual é um monumento à existência de um Deus. Transpira a existência de um Deus por todos os poros.
Mário “passou-se”. A boca abriu e fechou umas três vezes antes de conseguir falar. O silêncio foi total nesses instantes, pelo canto do olho pude observar as máscaras de apreensão dos outros. Finalmente, a palavra surgiu seca na boca do Mário:
- Explica-te! – comandou.
- Dizia-me há dias um amigo que o Universo parece ser uma máquina construída com o único objectivo de produzir estruturas tão complexas quanto possível, pois começou com o átomo de hidrogénio e já fabrica as complexas proteínas da Vida.
- Isso já me está a cheirar a misticismo – interrompeu Mário – o Universo evolui no sentido da desorganização crescente. Todos os sistemas físicos evoluem no sentido da entropia crescente. Isso é uma lei básica.
- Entropia? – questionou Luísa – o que é isso?
- É uma medida da quantidade de informação que é necessária para descrever um sistema – Mário gostava sem dúvida de ensinar – Um exemplo clássico é o do supermercado. No começo do dia, todos os produtos estão dispostos nas prateleiras respectivas. Para se saber a localização de qualquer produto, basta uma lista não muito grande da localização de cada tipo. Ao longo do dia, os clientes pegam em produtos largam-nos onde calha. Ao fim do dia, se se quiser fazer uma lista da posição de todos os produtos, essa lista tem de incluir a posição de cada um dos produtos que ficaram fora de sítio. Ou seja, é preciso mais informação para descrever o posicionamento dos produtos. Estão de acordo não é verdade?
- Sim! - respondemos em coro e rimo-nos, que o riso estava a fazer-nos falta.
- Ora bem - continuou Mário - matematicamente, essa quantidade de informação é medida por uma função chamada entropia. Portanto, a entropia do sistema de produtos do supermercado cresce ao longo do tempo. E se não existissem pessoas que se encarregam todos os dias de voltar a pôr os produtos no sítio certo, ao fim de algum tempo a lista de posicionamento tinha de ter tantos items quanto os produtos existentes no supermercado. Estás a perceber?
- Estou. Realmente é interessante.
- Esse exemplo é bom – comentei então – porque mostra bem o problema que a noção de entropia cria para a Física.
- O problema!? – admirou-se Mário.
- Sim, porque para baixar a entropia foi preciso fazer intervir os empregados do supermercado, ou seja, uma inteligência, uma vontade exterior ao sistema! – não pude conter um sorriso de triunfo. Mário ficou algo perplexo e, sem lhe dar tempo a contestação, concluí – a ideia que o aumento de entropia, ou seja, o aumento de desordem, é uma característica essencial dos fenómenos físicos implica a ideia, eventualmente inconsciente, de que só a intervenção de uma inteligência exterior ao sistema pode alterar essa inexorável evolução para uma desordem crescente. Não será assim?
- Continua – Mário, cauteloso, optou por me fazer continuar, certamente à espera de um ponto fraco na minha argumentação que lhe permitisse uma contestação clara.
- Quando olhamos para o Universo, o que verificamos é que ele sempre se transformou no sentido da complexidade, no sentido contrário à seta de evolução subjacente às teorias físicas. Portanto, os físicos procuram explicar o Universo baseados num conceito fundamental que é obviamente o oposto do que se observa. Olha, nessa linha é completamente impossível explicar como é que surge a Vida por exemplo. Nesse quadro, a Vida é um milagre.
- Estás querer dizer – retorquiu Mário, pesando as palavras – que um modelo correcto do Universo conduz necessariamente à formação da Vida, não como um acontecimento fortuito mas como um acontecimento necessário, inexorável?
- Claro! E vês o espanto que tal afirmação te causa? Sinal que subjacente ao teu pensamento ateu não deixa de estar uma crença inconsciente num deus criador. Mas há mais: a teoria cosmológica aceite pela ciência, o Big Bang, está perfeitamente de acordo com a concepção judaica, continuada pelos cristãos e muçulmanos, da existência de um Deus que criou o Universo a partir do nada. Não podia estar mesmo mais de acordo: tudo surge de um ponto do nada! Aliás a ideia é proposta por um abade, o abade Lemaître...
- ..que foi um grande cientista!
- Sem dúvida. E religioso também. Chegou a presidente da Academia Pontifícia de Ciências, à qual estão ligados os nomes de nada menos 39 prémios Nobel.
- Espera aí – interrompeu-me Luísa, espantada – essa não é a academia do Vaticano, que tem origem na Academia do Lince, aquela do Galileu?
- Vai sempre tudo parar ao mesmo, não é...?
- Esperem aí, não passem já a outro assunto antes de resolvermos o problema da entropia – interrompeu Mário - A tendência para o aumento da entropia é um facto indesmentível e não há nada de errado no pensamento científico a esse respeito!
- Pois .... mas então como é que o Universo evolui no sentido da complexidade e não no sentido do caos?
- Estou ansioso por te ouvir – ironizou Mário