sábado, maio 19, 2007

A Ilusão de Riqueza


Já referi noutro post que estamos cada vez mais pobres mas que, em consequência da diminuição de preços de muitos produtos, não o percebemos ainda.

Uma outra razão para o não percebermos é a seguinte: desde há várias décadas que se tem vindo a operar uma inversão nos valores relativos das coisas. Por exemplo, um televisor era um objecto de luxo há 40 anos, hoje pode custar uma bagatela. Um gira-disco era um objecto de culto na minha adolescência, hoje um leitor de DVD chega a custar menos que um DVD!

Ao poder ter estes objectos, ao poder fazer coisas que dantes eram quase inacessíveis, como viajar, temos a sensação de que estamos muito mais ricos do que estavamos. O que eram objectos de desejo, de sonho, passaram a estar ao nosso alcance.

Estas coisas, porém, não são indispensáveis à sobrevivência. O facto de elas estarem muito baratas pode ter a ver com qualidade de vida mas não com aspectos essenciais da sobrevivência.

Há coisas, parte integrante do conceito de sobrevivência, que não ficaram mais baratas. Ter um filho por exemplo. Dantes, ter um, ou dois, ou três filhos, educá-los adequadamente, estava ao alcance de qualquer familia "remediada". Mas hoje já não está pois não?

Estamos iludidos com sonhos que se tornaram realidade, e isso enviezou a nossa escala de medida de riqueza. Não estamos mais ricos por podermos comprar um LCD ; estamos mais pobres porque já não podemos educar 3 filhos!

Educar três filhos é o limiar de sobrevivência. É o mínimo necessário à manutenção da população, à transmissão à posteridade daquilo que recebemos. Podemos comprar um LCD, ir passar férias ao estrangeiro e, no entanto, estamos abaixo do limiar de sobrevivência.

Poder-se-á dizer: não é por falta de dinheiro, é por opção, muitos preferem a carreira profissional a ter filhos. Ora não é bem assim. Acontece simplesmente que as pessoas não têm essa opção. O mundo profissional tornou-se extremamente competitivo; tentar partilha-lo com filhos pode significar perca de competitividade profissional, logo perca de rendimentos, logo insuficiência de meios para sobrevivência.


Há outro facto que pesa nisto, que é o total desajuste do sistema de ensino, concebido a pensar apenas nos homens, em relação a este problema. A ele virei em breve mas, para já, é bom que tenhamos consciência que já somos pobres demais para podermos educar 3 filhos, que é o mínimo em termos de conceito de sobrevivência.

3 comentários:

antonio ganhão disse...

Neste post, o conceito de sobrevivência estende-se ao da própria espécie.

Se não nos renovamos extinguimo-nos.


Por isso a importância dos emigrantes: estes continuam a garantir uma descendência generosa. Infelizmente, fazem-no pagando um elevado preço social.

Se os integrarmos na nossa sociedade, também eles deixarão de ter filhos... e por outro lado, precisamos que os seus filhos se integrem para que desse modo contribuam para o nosso estado social.

Complicado.

alf disse...

A ideia de que é preciso contribuições de "trabalhadores" para sustentar o estado social é um erro, como mostrarei num próximo post.

O problema da imigração é complexo... ainda tentei alinhar aqui algumas ideias mas apaguei tudo... complicado, muito complicado...

Rui leprechaun disse...

Mais outra novidade... é rica a paternidade!

Claro que aqui estou a zero... redondinho e muito vero.

Pois de facto, pensando assim nos casais conhecidos, a norma são dois filhos e por vezes até só um. De momento, apenas me lembro de um único com três... e essa mamã é tão rica em beleza como a própria natureza! :)

Ora bem, como aqui ninguém já vem... eis mais riminhas patetas de hermafroditas ascetas! :D

Nela outrora inspiradas... que eu amo Musas e Fadas! ;)


Divina Elisa

Co'os raios do teu olhar
Urdo uma teia de esp'rança,
P'ra te poder conservar
Sempre na minha lembrança.

Do teu doce conversar
Faço prisão de ouro fino,
Para mais tarde ligar
O meu com o teu destino.

Enleia-me a tua graça
Numa rede de ternura,
Com que me aperta e enlaça
Tua imensa formosura.

Co'o teu cabelo ondulado
Construí um fofo ninho,
Onde adormeço, embalado
Na ideia do teu carinho.

No teu riso sedutor
Vejo bola de cristal
Que interrogo com temor:
"Quer-me bem ou quer-me mal?"

O teu andar gracioso
É uma fonte de prazer
Onde eu me vou, pressuroso,
Dessedentar e beber.

O teu corpo incomparável
É divino aos olhos meus.
Toda TU és adorável
E eu amo-te como a Deus!


Ná!... caso perdido, sem solução...

Rui leprechaun

(...manicómio pròs loucos de paixão! :))