Vamos conhecer esses sistemas. São sistemas que permitem resolver problemas. Genericamente, são sistemas de Inteligência. Mas vamos detalhar a sua natureza e classificação.
Voltemos ao exemplo do Labirinto.
O nível mais elementar de actuação que permite resolver o labirinto é andar ao acaso até dar com a saída, o que designei por «Hipóteses+Selecção», ou «H+S» no texto anterior; mal designado, penso eu hoje... «Acaso+Selecção», ou «A+S» parece-me mais adequado, e é assim que o referirei de agora em diante. Não esqueçam: o «H+S» foi substituído pelo «A+S»!
Já vimos que este nível só é eficiente em situações onde a geração de acasos seja muito elevada e o custo de cada hipótese falhada irrisório.
Depois, referi que podia resolver um labirinto se andasse sempre encostado ao mesmo lado. Sem dúvida que este processo é muito mais eficiente, 100% eficiente. Mas a Inteligência não está na aplicação desta regra resolvente, está no processo que conduziu a ela. E que processo foi esse? Foi um processo de geração de hipóteses com um grau de complexidade superior – nada de transcendente, pois “virar sempre para o mesmo lado” é a alternativa mais básica a “virar ao acaso” – seguido do teste da hipótese.
Temos aqui um processo mais estruturado de elaboração de alternativas, de Hipóteses, seguido da aplicação da hipótese escolhida; depois, a análise do resultado e a aprovação ou rejeição da hipótese. Portanto, temos algo de novo em relação ao primeiro processo: temos «Feedback», ou seja, precisamos do resultado do teste para aprovar ou rejeitar a hipótese. Uma vez aprovada, a hipótese fica a fazer parte duma base de conhecimento, associada ao problema do labirinto.
Este nível de Inteligência apresenta grandes diferenças para o primeiro: assenta num processo mais estruturado de geração de hipóteses, que já não são obtidas por mecanismos de acaso, seguido do teste e da análise do resultado do teste. E o resultado deste processo é o quê? Um item duma base de conhecimentos. Um Conhecimento.
Como poderemos nomear este nível? Dissequemos.
As Hipóteses não saem de uma base de conhecimentos, são algo de novo, mas também não são fruto de acaso; são fruto de um processo... criativo! Portanto, podemos designar o primeiro passo do processo por «Criatividade». O segundo passo é o teste da hipótese, a experimentação, a acção. Vou escolher a palavra «Acção». O terceiro é o «Feedback». Esta palavra representa bem o terceiro passo e é bem conhecida. Todos sabemos que o organismo se regula por «bio-feedback». O «Feedback» é um processo corrente na interacção dos organismos vivos com o meio.
Portanto, vou designar este nível de Inteligência por «Criatividade+Acção+Feedback» ou «C+A+F».
O que é específico desta sequência é a Criatividade, pois os outros dois passos são comuns aos mecanismos de regulação, ao bio-feedback. No próximo post tentaremos perceber como se realiza o processo de Criatividade.
Inteligência é um processo associado à geração de hipóteses novas; mas isso não é sempre necessário para resolver problemas – rarissimamente usamos hipóteses novas, o que fazemos é aplicar o que já sabemos às situações que nos vão aparecendo. Podemos assim identificar dois tipos de processos: o de Inteligência e o de Ajustamento (escolhi esta palavra agora mesmo... em inglês diria “fitting”... aceito sugestões).
O «Feedback» é um processo de Ajustamento de nível 1; não é de Inteligência porque não há criatividade no processo.
Reparemos agora como actua um médico: primeiro, faz o Diagnóstico da situação, identificando um quadro a que chama «doença»; depois, aplica um Procedimento, que é o tratamento conhecido para essa doença. Desta forma, ele resolve um problema, o mal-estar da pessoa. Reparem que «doença» não significa a identificação da causa da doença, apenas o quadro de sintomas. No caso de uma pneumonia, sabemos qual é a causa, mas no caso de uma doença reumática, por exemplo, não sabemos – temos apenas um quadro de sintomas e um conjunto de tratamentos que sabemos poderem dar algum resultado, mas não temos necessariamente uma relação lógica ou de causa-efeito entre as duas coisas.
Este processo de «Diagnóstico+Procedimento» é um processo geral que aplicamos constantemente em tudo o que fazemos - quando andamos, comemos, consultamos o email, resolvemos as questões da nossa vida profissional, das nossas relações sociais, etc. Resolve problemas cuja solução já é conhecida ou que se podem decompor em problemas conhecidos. Reparem: «aprender a andar» é um processo de inteligência de nível 1, um processo de tentativa e erro; mas «andar» já não é um processo de Inteligência mas sim de Ajustamento, pois depende da base de conhecimentos construída no processo de aprendizagem e não da geração de hipótese novas.
Organizemos então o que já percebemos:
- Dois tipos de processos de resolução de problemas: os de «Inteligência» e os de «Ajustamento»; vou designá-los por processos I e processos A
Veremos a seguir alguma coisa sobre o uso que fazemos destes processos, o que nos permitirá compreendê-los melhor e saber tirar melhor partido das nossas capacidades. E, muito importante, compreender as nossas limitações.
Dotados de uma melhor compreensão destes 4 processos, poderemos então abordar a questão da Evolução. Reparem a vantagem que temos à partida sobre o Darwin: vamos «armados» com 4 processos capazes de produzirem modificações nos seres vivos, enquanto ele só tinha 1 processo de Inteligência e nem sabia da existência de genes.