quarta-feira, outubro 31, 2007

No Conhecimento está a Salvação

Em 1969 Portugal sofreu um terramoto de magnitude superior a 7. Em algumas partes do Mundo, muitas pessoas poderiam ter ficado soterradas nos escombros das suas casas. Mas em Portugal os prejuízos foram mínimos. Porquê? Porque desde o terramoto de 1755 que em Portugal se tomam medidas para prevenir os efeitos dos terramotos. Não são decerto as suficientes, este terramoto foi umas dez vezes mais fraco do que o de 1755; mas já fazem uma grande diferença.

O Evento de Younger Dryas, e os muitos outros que tem ocorrido na Terra, apesar de terem originado muitas vezes catástrofes imensas e extinção de espécies, não são um mar de labaredas que cobre a Terra ou um dilúvio que tudo submerge. Não são nada que a Humanidade não consiga enfrentar com sucesso. É só uma questão de Conhecimento – saber do que se trata, saber prever, e organizar as coisas para o enfrentar.

Uma diferença em relação a um terramoto é que o fenómeno é global. Portanto, sem uma Consciência Global não poderão ser tomadas medidas eficientes.

Para fazer face ao próximo Evento, a Vida vai dispor de um novo e formidável instrumento: a Sociedade Humana.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Um Evento Presenciado pelos Humanos



Acerca do Vídeo

American Geophysical Union Press Conference, Acapulco, Mexico, May 23, 2007 - Part 1 of 7


Investigações da composição de uma camada anómala encontrada enterrada em vários locais do mundo revelam a presença de materiais de origem extraterreste. Uma possível origem seria a explosão de um corpo maciço, como um cometa, há 12 900 anos. Coincide com o desaparecimento de mamutes e outra megafauna e o início de um período frio conhecido como o Evento Younger Dryas. A cultura americana Clóvis, parece ter sido dramaticamente afectada, ou extinta, nesta mesma altura. Os oradores discutem numerosas evidências.


Aqui podem ler um resumo deste Evento e aqui podem saber mais

sexta-feira, outubro 26, 2007

Uma Mentira Conveniente


O nível mínimo de dióxido de carbono para suporte da vida? Espera aí, a resposta não é assim tão linear...

Então?

As plantas terrestres, na sua generalidade, têm um bom crescimento acima de 600 a 1000 ppm de dióxido de carbono; abaixo disso passam fome!

Passam fome? Nunca me lembrei de pôr a questão nesses termos, Tulito, mas tens razão eheheh.

Pois é, passam fome, ou seja, crescem lentamente e são estruturalmente mais frágeis.

Mas qual é o limite mínimo, Tulito?

Não estás a ver bem o problema, Alita. Supõe que tens 600 ppm de dióxido de carbono. Vais ter uma certa quantidade de biomassa vegetal, que vai crescer a uma certa taxa; numa situação de equilíbrio, o acréscimo da biomassa vegetal é comido pelos herbívoros. Portanto, para 600 ppm tens uma certa quantidade de biomassa vegetal e animal. Qualquer redução do dióxido de carbono significa diminuição do crescimento das plantas....

Ah, estou a ver, abaixo de 600 ppm qualquer diminuição do dióxido de carbono implica diminuição da biomassa total. Plantas, herbívoros e carnívoros vão entrar num ciclo presa-predador de 2 níveis e o equilíbrio médio final será com menos vegetação, menos herbívoros e menos carnívoros. Sobretudo menos herbívoros grandes, mais afectados pela diminuição da vegetação.

Exactamente, essa cabeça está bem lubrificada! Os carnívoros tem um importante papel na estabilização do sistema; se não fossem os carnívoros, o sistema herbívoros-plantas seria um sistema presa-predador de primeiro nível, com oscilações brutais e catastróficas.

Pois, os carnívoros funcionam como um amortecedor do sistema. Vê lá que só agora é que percebi a importância dos carnívoros!

E nota que a relação não é linear, uma redução para metade do dióxido de carbono originará uma redução para muito menos de metade da biomassa.

Portanto, queres tu dizer que, desde que o dióxido de carbono esteja abaixo dos 600 ppm, o suporte de vida fica afectado sempre que o dióxido de carbono desce. Muita fominha sempre que o dióxido de carbono descer!


Exactamente.

Bom, mas o que eu quero saber é o nível abaixo do qual a vida se extinguirá MESMO!

Bem, aí pelos 180 - 200 ppm as plantas já dificilmente se reproduzem, pelo que quando o dióxido de carbono atinge esse nível, a biomassa começa a reduzir-se rapidamente e tenderá para a extinção – os herbívoros irão comendo as plantas todas e depois eles e os carnívoros morrerão por falta de alimento.

Muito bem, então agora repara: segundo os registos deles que vi, os níveis de dióxido de carbono na Terra seguem as variação térmicas, variando cerca de 100 ppm por cada ºC de variação da temperatura global.

Também reparei. Aliás, em parte, a actual subida do nível do CO2 será consequência da subida de temperatura que ocorreu na segunda metade do século XX e não da queima de combustíveis fósseis, cuja quantidade é insuficiente para tal. Os registos mostram bem que as variações de temperatura precedem as variação do dióxido de carbono.

E também reparaste que nos períodos de glaciação o dióxido de carbono tem descido para uns perigosos 190 ppm?

Sim, reparei.

Então agora repara nisto: tão obcecados eles andam com o dióxido de carbono que estão a investir em força no desenvolvimento de sistemas para retirarem o gás da atmosfera; até já pensam em usar bactérias geneticamente modificadas para essa tarefa. Imagina, por um momento, que eles têm sucesso, e que desenvolvem um processo que faz baixar o nível do CO2; no próximo período de frio, o nível poderá descer abaixo dos 190 ppm e comprometer seriamente a vida na Terra.

(imagem: Wikipedia Vostok-Ice Core-Petit)

Hummm, não me parece que eles tenham essa capacidade... Eheheheh, então era esta a tua grande descoberta, Alita?

Não rias, mesmo pequenas quantidades sequestradas irão diminuir o reservatório global do dióxido de carbono e nas situações climáticas extremas poderá deixar de estar disponível a quantidade indispensável à manutenção da vida.
Eles sabem que o dióxido de carbono é importante... nos países mais avançados as estufas têm atmosferas enriquecidas em dióxido de carbono, nos outros países sabem que as estufas têm de ser fortemente ventiladas ou as plantas não crescem porque o nível de dióxido de carbono baixa dentro da estufa...

Se não recorrerem ao dióxido de carbono nem vão conseguir produzir alimentos para as crescentes necessidades humanas, a atmosfera terreste já não tem que chegue para suporte da biomassa humana, o uso de atmosferas enriquecidas em dióxido de carbono é hoje tão indispensável como o uso de adubos

Pois ... aliás, eu já li nos documentos do IPCC que o objectivo é suster os níveis de dióxido de carbono na atmosfera nos 500 ppm.
500 ppm?? Ahh, mas isso é impossível!

Impossível porquê?

Porquê? Ora, porque não haverá petróleo suficiente para isso. As reservas que eles conhecem de petróleo não chegam para uma subida dessas. São só 40 vezes o consumo anual actual. E acredito que não exista muito mais porque eles já devem saber quais as formações geológicas capazes de reter petróleo.

Espera aí, então estou a perceber tudo!

O que é que tu estás a perceber?

Estou a perceber o problema deles! De facto, é um grande problema! Ora repara: a civilização deles colapsa se o petróleo acabar; encontrar alternativas ao petróleo é difícil, demorado e dispendioso, é algo em que eles há muito deveriam estar a trabalhar em força.

Pois, deviam estar a trabalhar o problema do fim do petróleo em vez da treta do Aquecimento Global.

Mas é isso mesmo que estão a fazer! Não estás a perceber?! Então achas que os teus humanos se vão preocupar com a perspectiva de o petróleo acabar numa data que pode ultrapassar a esperança de vida deles?

Pois, tens razão! Os humanos medem tudo em relação a eles próprios. Algo que ultrapasse a esperança de vida deles deixa-os indiferentes.

Claro. Que o petróleo não vai durar para sempre, há muito que o sabem. Vê lá se isso os preocupou. Nada. Com eles, preocupações é para o último dia. Era preciso encontrar algo que os fizesse pensar que o consumo do petróleo iria ter consequências dramáticas nas suas vidas, a muito breve prazo!

Então tu achas que tudo isto do Aquecimento Global foi construído com o objectivo de permitir encontrar uma alternativa ao petróleo?

Acho. E agora tudo faz sentido. Uma coisa que me fez confusão é porque é que decidiram que a média climática de 1961 a 1990 deveria ser tomada como referência. Agora percebo: porque corresponde à juventude da maioria dos humanos! Os humanos facilmente tendem a considerar que o clima da sua juventude é o clima “normal” e como o clima está sempre a variar, é então fácil “provar” que há uma “alteração climática”. Não é assim que tu dizes que se conduzem as massas humanas, falar para os instintos e fazer associações simplórias?

Exacto. Mas isso seria uma estratégia genial... então tu achavas os humanos tão burros e agora vens com uma ideia dessas?

É só o mesmo que já fizeram em relação ao tabaco... um bocado mais refinado, mas o que está em jogo também é bem mais sério.

Mas realmente faz sentido o que dizes... e está a dar os primeiros resultados...

Sim, mas ainda têm um longo caminho pela frente... o custo do consumo do petróleo vai ter de continuar a subir rapidamente, pelo menos uns 30% ao ano... mais...

Bom, mas a minha preocupação acaba por estar certa... se eles optarem por investir nas técnicas de sequestro do dióxido de carbono, não só prejudicam a atmosfera, que já está nos níveis mínimos necessários a assegurar a sobrevivência nos períodos de frio, como deixam de investir nas formas alternativas de energia.

Ahh, isso é certo. Aí vão ter um sério problema. Afinal, sempre acabaste por descobrir um problema, Alita! E ficamos a compreender o porquê desta confusão do Aquecimento Global. Mereces uns pontos nesta nossa competição!

Eheheh, obrigada Tulito, embora eu não esteja nada convencida de que a tua teoria esteja certa... este monte de vigarices, desinformação, mentiras descaradas até... tudo por um objectivo nobre e algo distante? Se fosse verdade era bom era, mas ainda não vi que os humanos fossem capazes dum feito destes...

A máquina de inteligência artificial anda-me a dar alguns resultados que pressupoem essa capacidade... pode ser por a máquina ser programada por nós e isso a levar a considerar possibilidades que seriam verdade na nossa civilização mas não na deles...

Olá! Estás a despertar-me a curiosidade para esses resultados que estão a fazer-te mudar a opinião sobre os humanos!

Eh eh ... de qualquer maneira, a causa primeira da confusão em que a Ciência deles se encontra... sabemos bem qual é!

Claro! Não sabem que a Terra se está a afastar do Sol! Mas de quanto tempo precisarão ainda para descobrir o fenómeno do Desvanecimento?? Quase dois milénios levaram eles para perceber que a Terra andava à volta do Sol...

Pois, e essa ignorância vai começar a ter consequências perigosas...

Sim sim, mas agora é altura de mostrares o que obtiveste na máquina de inteligência artificial, Tulito. Estou muito curiosa para ver o que te está a dar tão estranhas ideias sobre os humanos.

domingo, outubro 21, 2007

Consciência Global


Digo-te já que me deu cá um trabalhão deslindar a paranóia do Aquecimento Global...

Aliiita! Eu tenho um trabalho a fazer! Vai aos finalmentes!

Livra, não andas nada bem! Saudades de casa?

Alita, não era uma crítica, eu estou é ansioso para saber o que descobriste. Até porque eu também estou a obter uns resultados interessantes.

Ahh, então podemos fazer uma competição: quem terá obtido resultados mais interessantes?

Boa! Mostra-me lá as tuas descobertas que eu depois mostro-te as minhas.

Então lá vai. Como sabes, eles não sabem que os planetas se afastam do Sol.

Sim, ainda ignoram o fenómeno do Desvanecimento.

Exacto. Ora acontece que os cientistas que estudam os vestígios do passado da Terra chegam sistematicamente à conclusão que a temperatura terrestre é sempre crescente em direcção ao passado.

Claro, pois se a Terra estava mais próxima do Sol...

Claro para nós, mas misterioso para eles. Eles pensam que a distância ao Sol é constante e que a energia radiada pelo Sol era menor no passado, logo a Terra deveria ser mais fria no passado, nunca mais quente!

Estou a ver. E então?

Então, andaram à procura de uma causa e repararam numa coisa: os níveis de Dióxido de Carbono são crescentes em direcção ao passado!

Claro! Qual é a admiração?

Eles não se admiraram, sabem que o dióxido de carbono vai desaparecendo em carvão, carbonatos, etc. Mas acharam que tinham encontrado uma explicação: efeito de estufa causado pelo Dióxido de Carbono!

Como é isso?

Fizeram modelos climáticos. Tinham uma dificuldade: não sabiam contabilizar o efeito das nuvens. Mas verificaram que se presumissem que o efeito delas era nulo, a introdução do dióxido de carbono no modelo originava um aumento de temperatura próximo do observado nos últimos milhões de anos!

Só por acaso! O clima é completamente determinado pelas nuvens e pela irradiação solar.

Isso sabemos nós, mas eles não sabem. Agora, mete-te na cabeça deles: como explicar a espantosa contradição entre temperatura e irradiação solar para quem não sabe que a Terra se afasta do Sol?

Estou a ver, a correlação entre o dióxido de carbono e a temperatura era demasiadamente tentadora...

Exacto.

Mas ouve lá, isso não faz sentido, eles fazem ideia de quão quente foi o passado terrestre?

Os registos mais ou menos fidedignos de que dispõem não se estendem muito para além dos 60 milhões de anos, por isso não têm uma perspectiva muito sólida da história térmica da Terra. Calculam que a temperatura global tenha descido uns 7 ºC nos últimos 100 milhões de anos.

E não têm mais dados?

Têm vários indícios, mas a sua interpretação pode ser diversa. Embora alguns sejam bastante claros, nomeadamente a data de aparecimento da água à superfície ou que as bactérias primitivas, as arqueobactérias, eram termófilas. Já descobriram várias que vivem a temperaturas elevadas e a uma pressão de várias atmosferas, como a Pyrolobus fumarii , que vive a 113ºC; eles têm evidências de que essas eram as condições na Terra quando a Terra já tinha mais de metade da idade que tem hoje!

E querem explicar isso com o dióxido de carbono?

A alternativa seria fazer investigação fundamental, questionar as bases do seu conhecimento, mas isso está fora de questão para eles.

Mas ouve lá, isso continua a não fazer sentido: num modelo sem nuvens, a temperatura subirá quase tanto no equador como nos pólos, o que não acontece. Como é que ultrapassaram isso?

Meu querido, eles funcionam assim: a melhor das hipóteses que conseguem produzir é adoptada como “verdadeira”, enquanto não aparecer uma melhor. Evidências de que não pode ser o dióxido de carbono têm muitas, agora até têm uma muito forte, pois já sabem que Marte também teve um passado quente do qual o dióxido de carbono não poderá ter sido a causa; o que não têm é uma hipótese melhor!

Ser contra as observações não a elimina?

Não, a Ciência tem de ter sempre uma explicação; assim elegem a menos má como a verdadeira... do momento. O problema não está neste procedimento, está em não fazerem investigação fundamental.

Claro. As bases do conhecimento têm de ser continuamente questionadas e investigadas. Vejo que ainda não perceberam bem isso...

Eu tenho uma teoria sobre isso, mas fica para outra altura. Nota, no entanto, que a Ciência se limitou a investigar a hipótese de o dióxido de carbono ser a causa do aquecimento do passado. Esta paranóia do Aquecimento Global não foi provocada pela Ciência.

Não foi?

Não, isto é Política. Imagino que tenha a ver com a necessidade de desenvolver energias alternativas ao petróleo. Alguém se terá lembrado de que a associação que os cientistas andavam a testar entre aquecimento e dióxido de carbono servia às mil maravilhas: bastava apresentar o dióxido de carbono como responsável por uma catástrofe ecológica!

Mas qual catástrofe? Um aumento da temperatura média seria óptimo, significa temperaturas mínimas mais altas e máximas mais suaves, um clima mais uniforme. O arrefecimento é que é catastrófico!

Claro! Mas isso não interessa, é só um pretexto, a subida da temperatura média é insignificante, nem 0,5ºC nos últimos 50 anos. Claro que isso não dizem, falam apenas de projecções fantásticas de não sei quantos graus no futuro. São tretas atrás de tretas, furacões, subidas mágicas do nível das águas, até com secas eles ameaçam, vê lá tu!

Quanto maior a temperatura média, maior a pluviosidade...

Claro. Toda a campanha do Aquecimento Global é feita para actuar no Inconsciente dos humanos

Estou a ver. É como a campanha do tabaco. O tabaco causa doenças horríveis mas não imagino qual possa ser a ligação do tabaco ao cancro; mas o que interessou é que o uso desse argumento é altamente efectivo. Cancro, impotência, fumadores passivos, usaram tudo o que se lembraram.

É isso. Aqui fizeram o mesmo e também funcionou.

Está bem, mas o que é que isto tem a ver com o Evento Solar?

Dentro de uma ou duas décadas perceber-se-á que, afinal, o tabaco nada tem a ver com o cancro; com o aquecimento global irá passar-se o mesmo. Conheces a lenda deles do menino e do lobo?

Sim, estou a perceber-te. Para fazer face ao Evento Solar é necessário mobilizar toda as capacidades, só que, nessa altura, Governos e Ciência terão perdido a credibilidade.

Exacto, é esse o meu receio.

Mas se me permites, também vejo um lado muito positivo nisso tudo.

Qual?

Segundo me explicaste, para gerir a sociedade humana não se pode ser racional. A Razão, neles, serve para construir a argumentação que vai suportar o que já foi decidido pelo seu Inconsciente, que é a verdadeira fonte das ideias e decisões. Não se convence os humanos a deixarem de fumar com a Razão, não é? O diálogo poder-povo não é com a Razão, é com o Inconsciente.

Sim, é certo. É preciso falar para os instintos, os medos, os desejos, fazer associações simplórias com as ideias aprendidas e as experiencias de vida. Como fazem as Igrejas.

Então repara: esta cena do aquecimento global deu uma contribuição importante para o desenvolvimento duma consciência global. Parece concebida para provocar esta resposta nos humanos. É um atentado à Razão, mas eficaz a nível do Inconsciente. E conseguir esta Consciência Global é o primeiro passo para que eles sejam capazes de enfrentar o Evento Solar e os outros desafios do futuro. Um primeiro passo essencial, crítico.

Sim, tens razão!!!

Ah, os teus olhos já têm aquele brilho positivo de que tanto gosto!

Cala-te! Tens muito que fazer, já te esqueceste? Mas não te entusiasmes porque há um pequeno detalhe que pode ter consequências dramáticas a curto prazo.

Mau, de que é que estás a falar?

Sabes qual é o limite mínimo do nível de dióxido de carbono para suporte da vida, não sabes?

quarta-feira, outubro 17, 2007

A Catástrofe do Oxigénio


Ver que confiança nos pode merecer o teu gráfico da temperatura terrestre?!?”, a Ana solta uma gargalhada e conclui: “Jorge, eu não tenho dúvidas nenhumas de que se o apresentaste é porque estás muito seguro de que está certo! Risos. A Ana continua, um pouco embaraçada com o meu olhar reprovador:eu estou só a ver se evito que fiques o resto da noite a provar por A mais B que a tua curva de temperatura está certo e acabamos por sair daqui ainda sem perceber nada sobre a origem da Vida!”, as faces coraditas pelo riso e pelo embaraço.

“Isso do acreditar ou não acreditar não pode ter lugar nas nossas conversas, o conhecimento não se constrói com isso”, digo com a naturalidade de quem diz uma banalidade. Tiro o gráfico do oxigénio da pasta e ponho-a em cima da mesa, virado para o Mário.
“Mário, o que achas disto?”

O Mário olhou atentamente a figura, mas não teve grande dificuldade em perceber do que se tratava.

Então, isto é a Catástrofe do Oxigénio!”o Mário com ar de quem diz algo óbvio, forçando o espanto da Luísa e da Ana.

A Catástrofe do Oxigénio?? De que raio estás tu a falar? disparou a Luísa, como o maroto do Mário certamente já esperava, o seu sorriso travesso denuncia-o.

Donde é que veio o Oxigénio que nós respiramos? Pensas que existiu desde sempre? Nada disso, estás muito enganada!!!”

Então??”

O Oxigénio só surgiu na Terra aí há uns 2,5 giga anos, ou seja, 2,5 biliões de anos, ou seja 2500 milhões de anos.

Essa é boa!”, Luísa não segurou o espanto, “Então como aparece o Oxigénio?

Bactérias, cara Luísa, foi a Vida que produziu o Oxigénio que agora temos! Já ouviste falar da fotossíntese? Foi o aparecimento desse processo na Terra que produziu o Oxigénio que existe!”

E é a isso que se chama a Catástrofe do Oxigénio??”,
a Ana com o seu habitual ar céptico.

Repara Ana, as células dessa altura viviam numa atmosfera sem oxigénio, eram anaeróbicas; ora as células anaeróbicas, quase todas, morrem na presença do oxigénio, que é tóxico para elas.”

De certa forma, pode-se então dizer que as células desse tempo morreram em consequência da poluição que elas próprias causaram!”. O sorriso de Luísa denunciava o pensamento que lhe corria no cérebro.Ora aqui está um grande argumento a favor do ambientalismo!”

“Não te entusiasmes antes de tempo Luísa” e, numa voz de reco-reco:” Deus é subtil Luísa, o que parece nunca é, os raciocínios simplórios são sempre errados...”

Sim, sim, já conheço a tua lenga-lenga,
Luísa ri-se.

“Mário, olha bem para o gráfico, essa é mesmo a curva da Catástrofe do Oxigénio?”
Mário olha-me de soslaio, desconfiado, observa novamente o gráfico, e comenta:

“O que eu me lembro é que até há 2,5 biliões de anos atrás o nível de Oxigénio seria muito baixo e que pelos 1,8 biliões de anos atrás já seria superior a 1% ou 2% da atmosfera. E lembro-me de ver esta curva em artigos sobre o assunto; ou esta ou uma muito parecida.”

“Sabes que há dificuldades com a origem biológica do oxigénio, não sabes?”

“Sim, a fotossíntese terá surgido uns 300 milhões de anos antes de haver vestígios do oxigénio; além disso, para que o oxigénio fique na atmosfera é necessário que os restos orgânicos não sejam reciclados, isto é, que se transformem em carvão ou óleos ou fiquem enterrados em sedimentos; humm, deixa lá ver que mais....
O Mário fechou os olhos num esforço de concentração... haveria mais qualquer informação na formidável base de dados do enciclopédico Mário...
Ahh, há um problema com os ultravioletas, parece que é necessário um nível mínimo de 0,2% para formar ozono para protecção contra eles, o que significaria um nível mínimo de 0,2% há 3,5 biliões de anos! “

Sabe cada coisa este Mário... ponho-lhe na frente o gráfico da temperatura
“Lembras-te do meu gráfico da temperatura?”

“Sim, porquê?”

“Quando a temperatura era muito alta, existia muito mais vapor de água, tornando a atmosfera muito maior.”

“Claro, a atmosfera inicial era uma atmosfera de vapor, isso é sabido!”

“Se considerarmos que na Terra inicial o que existia era o que existe agora, essa atmosfera de vapor seria mais de 270 vezes a atmosfera actual, tal é a quantidade de água actual, não é?”

“Suponho que sim, o triplo da atmosfera de Vénus, não é?”

“Exactamente. Então agora supõe que a quantidade de Oxigénio que existia no início era a que existe agora.”

“Lá estás tu! Mas se está mais que provado que não existia Oxigénio para que é que vou supor isso?”

“Calma! Diz-me lá, se existisse a mesma quantidade de Oxigénio, qual seria a sua percentagem nessa atmosfera?”

Mário baqueia. De repente percebe onde eu quero chegar. Começa a fazer contas. Então, o nível actual é de 21%, nessa altura seria 270 vezes menos...”

“Pois”,
atalho, evitando o embaraço do cálculo mental, “ seria menos de 0,4% do nível actual, ou seja, 0,07%!!! Estás a perceber?”

“Estou... é como se o Oxigénio... quase não existisse....”

“Exactamente. À medida que a temperatura vai descendo, o vapor de água vai condensando-se, formando os oceanos. Aqui tens a curva da diminuição da atmosfera e a do crescimento dos oceanos”.
Ponho o novo gráfico em cima da mesa, ao lado do gráfico do Oxigénio; circula pelos três, que o observam cuidadosamente em silêncio. Ficam à espera que eu continue.

“Essa curva do Oxigénio é a que resulta simplesmente da diminuição da atmosfera e, no entanto, está de acordo com as observações. Interessante, não concordas?”

Sii...iim, o Mário anui, hesitante. Um súbito entusiasmo ilumina-lhe o olhar: Claro, torna muito mais fácil entender o fenómeno! E a curva dos oceanos também está de acordo com o que me lembro!Um desalento súbito:Mas isto é no pressuposto da tua ideia maluca de que a Terra se está a afastar do Sol...”

“Maluca?!” Que linguagem científica é essa?”.
Rio-me. “A única medida duma variação das órbitas é a da Terra-Lua; ora a Lua está a afastar-se da Terra exactamente à mesma taxa que eu considerei para o afastamento Terra-Sol!! Eu não disse nada que não esteja de acordo com os factos; está é em desacordo com as tuas presunções, mas isso não é problema meu, estou como o Newton, hypoteses non fingo, não faço hipóteses.”

Sim, mas as leis físicas não prevêem a variação das órbitas no tempo, para isso seria preciso que a constante gravitacional variasse no tempo.”

“Estás enganado, a constante gravitacional não varia e as órbitas variam.”

“Que estás para aí a dizer? Nunca ouvi falar nessa possibilidade!”

“Pois não ouviste, embora o próprio Newton tenha pensado nisso; há uma propriedade comum a todas as leis físicas que esconde uma das duas chaves que permitem descodificar o Universo que conhecemos.

Duas chaves?”, interroga Ana.

“Já vos falei de que existe uma escondida no teorema de Pitágoras...”

Ah, sim, já me lembro.Mas ainda não tinhas falado nesta!”

"Pois, sempre a tirares coelhos da cartola..."

“ Eh eh, cada coisa a seu tempo! Mas não te preocupes Mário, por agora basta que sigas o método científico, isto é, que olhes para os factos e esqueças as teorias e presunções eheheh.”

Esqueço as teorias? Isso seria negar o Conhecimento!”

“Pois, mas é aí que reside a diferença entre Ciência e Religião. O que disseste foi o que disseram ao Galileu e ao Newton; mas um verdadeiro cientista, como o Einstein, sabe que todas as teorias são temporárias; cem anos foi o prazo previsto por Einstein para aparecer uma teoria que suplantasse a sua própria.”

“Cem anos? Já passaram, O Einstein falhou essa ehehe

“Não falhou não... Como é que tu pensas que eu sei que a Terra se está afastar do Sol? Por inspiração divina? Talvez uns extraterrestres me tenham dito eheheh.
Mas nota o seguinte: a minha curva da temperatura pode ser deduzida de dois factos, a inexistência de água até há 3,8 biliões de anos e o decrescimento quase linear da temperatura nos últimos 100 milhões de anos; portanto, ela é a interpretação directa das observações”.

Eu sei que os paleontólogos não têm dúvidas de que o passado da Terra é quente, em face das evidências geológicas e biológicas, mas ainda não se atreveram a propor uma variação de temperatura dessas...”.

“Pois não; como não conhecem nenhum fenómeno capaz de suportar um tão lento arrefecimento da Terra, têm dificuldade em aceitar a plenitude dos factos.”

Quais factos?”

“Por exemplo, os factos que designam como Mistérios! Os fenómenos que já não ocorrem na Terra!”

Fenómenos que já não ocorrem? O que é isso?

“Então Luísa, por exemplo, já não se cria Vida pois não? Todo o ser vivo que existe hoje na Terra descende doutro, não é?”

Ahh, vamos finalmente à criação da Vida!”,
a Ana exulta mas eu estrago-lhe logo a alegria:

“Mas antes temos de analisar outros fenómenos desta classe!”, afirmo com ar decidido. “Por exemplo, o Mistério da Dolomite. Mário, sabes o que é, não sabes?” e pisco um olho ao Mário.

Claro que sei! O da Dolomite, ou o do Petróleo, substâncias que se formaram abundantemente num passado remoto em condições de pressão e temperatura que já não existem na Terra. Esse é um tema muitíssimo interessante.” Mário percebeu a piscadela e entrou no meu jogo de arreliar a Ana.

Oh não! É muitíssimo interessante para vocês, decerto, mas não é para mim! Ou vamos falar da origem da Vida ou vamos para o Bairro Alto, não vou desperdiçar a minha noite em conversas de geologia!”

O Mário e eu rimo-nos a bom rir, sobretudo com o ar espantado da Ana com o nosso riso. “Pronto Ana”, lá consegui dizer, “ vamos então falar da Origem da Vida!”

sexta-feira, outubro 12, 2007

Os Desafios da Vida


Ena, Tulito, estás muito pensativo, o que se passa? Esta missão está a desarmonizar-te?

Nem imaginas o que me saiu na máquina de inteligência artificial....

Então?

Fica para depois, quero fazer umas verificações primeiro. Fala-me mas é tu do tal assunto muito importante que ficou no ar.

Não é nada que nós não soubéssemos já, é algo que ultrapassámos com facilidade, o problema está em que as características mentais deles estão a criar uma situação em que eles não só não identificam o problema como o vão precipitar.

Deixa-te de considerandos e passa aos finalmentes, Alita.

Uiii, não estás nada bem não... mas eu não estou a divagar, já sabes que tenho de seguir o meu raciocínio...

Pois, já sei, as fêmeas não têm o poder de síntese dos machos em espécie nenhuma ehehe... segue lá o teu raciocínio!

Ainda bem que contribuí para o bem-estar do teu ego masculino. Responde-me lá a esta questão: qual é o primeiro grande problema de sobrevivência que a Vida enfrenta?

Além do Evento Solar?

Claro; esse não é um problema de fundo, é pontual, há sempre sobreviventes.

A diminuição progressiva de temperatura?

Bem, esse é, tens razão, mas esse é um problema que a vida ultrapassou pelos seus próprios recursos. Eu refiro-me ao primeiro problema que exige uma actuação específica da espécie inteligente.

O esgotamento dos biocomponentes?

Claro! Estava a ver que nunca mais lá chegavas!

Estava a pensar que te referias a alguma coisa dramática, pelo teu ar, Alita...

Não é um problema dramático, mas estes humanos estão em vias de o transformar em tal.

Como assim?

Qual é o primeiro biocomponente a faltar?

O Azoto. Os compostos de azoto bio-utilizáveis. Mas eles já ultrapassaram isso, produzem esses compostos industrialmente...

Claro. Os compostos de Azoto já não são produzidos no planeta deles há vários milhares de milhões de anos e a quantidade inicial vai saindo fora do bio-ciclo, diminuindo a quantidade utilizável; os seres vivos têm uma reduzidíssima capacidade de fixar o Azoto. Nós resolvemos o problema investindo na proliferação das formas vivas capazes de fixarem o Azoto, eles resolveram industrialmente.

E onde é que está o grande problema?

Calma Tulito! Qual é o segundo grande biocomponente a faltar?

O carbono. Ou melhor, o dióxido de Carbono.

Claro. O Dióxido de Carbono é essencial à Vida. Mas é um gás reactivo, solúvel na água e que se combina com outros elementos formando compostos que os seres vivos não processam. A imensa quantidade inicial de dióxido de Carbono vai desaparecendo ao longo do tempo e, a partir de uma certa altura, a quantidade da biomassa passa a ser proporcional à quantidade de dióxido de carbono, diminuindo à medida que este vai diminuindo.

Ainda não disseste nada de novo, Alita. Esse é um processo lento. Há muitos milhões de anos que eles estão nessa fase.

Pois estão. A biomassa no tempo dos dinossáurios era muito maior que a actual, mas à medida que o dióxido de carbono foi diminuindo, assim foi diminuindo a biomassa. Hoje, a vegetação é quase toda anã e os animais, com a única excepção das baleias, também o são. As plantas já nem crescem a partir de certa altitude. Grande parte do planeta já não tem vida quase nenhuma. Mas eles não têm consciência disso, medem tudo sempre em relação a eles próprios, eles pensam que a fauna e a flora no tempo dos dinossáurios é que era gigante, vê lá tu!

Pois, eu sei. A biomassa, portanto a quantidade e tamanho dos seres vivos, diminui proporcionalmente ao dióxido de carbono. Mas eles estão numa era em que a produção de energia se faz com produção de dióxido de carbono, o que irá equilibrar o processo o tempo suficiente para encontrarem forma de ultrapassar essa dificuldade.

Chegaste ao busílis da questão! É que os paleontólogos humanos cometeram um erro com consequências dramáticas.

????? Os paleontólogos???

Sim. E dada a capacidade tecnológica que eles parecem ter, a ocorrência em breve do Evento Solar até pode ser uma sorte... uma tragédia que evitará outra maior...

De que raio estás a falar, Alita?

Eh eh, não te preocupes, já percebi que este erro não pode aguentar-se muito mais... mas sabes quem acaba de ganhar o Nobel da Paz?

Explica-te de uma vez, Alita, não comeces com os teus números de suspense. O que tem a ver o Al Gore com os paleontólogos e o Nobel da Paz com essa putativa tragédia que eu ainda não percebi qual é?

quinta-feira, outubro 11, 2007

O que vale a Verdade para os Media


Acabo de ver um episódio de uma esplendorosa série inglesa sobre o rei Henrique VIII, creio que no canal 1, onde assisti pasmado ao casamento da irmã do rei, Margarida Tudor, com um rei Português, podre de velho, que a dita Margarida assassina com uma almofada, para poder regessar a inglaterra com o amante inglês. Claro que a corte portuguesa era um bando de saloios, contrastando com o bem parecido amante inglês.


Acham bem? Aguma vez ouviram falar desta rainha de Portugal? Pois, eu também não. Vejam o que consta na Wikipedia sobre a dita senhora:


"Pelo Tratado de Paz Perpétua, assinado entre Henrique VII e Jaime IV da Escócia, foi acertado o casamento entre Margarida e o monarca escocês, dezesseis anos mais velho que ela... O casal teve seis filhos, mortos na infância, exceto o quarto, o príncipe Jaime.
Quando seu marido foi assassinado, em 1513, seu filho tornou-se Jaime V."


Viram, afinal, não foi com o rei de Portugal, foi com o da Escócia!!!


Que tal este exemplo da qualidade das verdades veiculadas pelos media? E isto numa matéria que qualquer um pode entender. Imaginem agora o que se passará nos que versam temas "científicos"...


Imagem: Margarida Tudor, fonte Wikipedia

terça-feira, outubro 09, 2007

A Dança dos Planetas


“O clima terrestre se a Terra estivesse onde está Vénus? Então, era capaz de ser parecido com o de Vénus hoje....”, a Ana não se sentia nada segura neste palpite.

“Pois é, Ana, é capaz de ser isso. Mas podemos testar essa possibilidade. Primeiro, deixem mostrar-vos como varia a distância entre a Terra e o Sol ao longo do tempo, considerando que a Terra se tem vindo a afastar do Sol à mesma taxa que a Lua se está a afastar do Terra, e eu sei que é mesmo assim”. Abri a pastinha que tinha trazido para esta conversa e pus em cima da mesa a primeira das figuras.


Estão a ver? A Terra já esteve mais perto do Sol do que Vénus está hoje, e daqui a cerca de 5 mil milhões de anos, ou seja, 5 giga anos, estará tão longe como está hoje Marte”.
Ana e Luísa olharam interessadamente para figura, Mário hesitou entre mostrar ou não interesse; a curiosidade acabou por vencer:

Isto considerando a mesma taxa de afastamento da Lua, dizes tu?”. Percebo que na cabeça de Mário se agita a afirmação de que o afastamento da Lua seria uma consequência do efeito de Maré; apetece-lhe dizer isso mas ele sabe que não existe a mais pequena confirmação, nem teórica nem experimental, de tal hipótese; resolvo-lhe a hesitação avançando na conversa:

Exactamente Mário. Agora, sabendo como variou a distância e sabendo também como tem variado a energia radiada pelo Sol, a fazer fé no modelo actualmente aceite pela ciência, é fácil estimarmos a variação da energia recebida na Terra por metro quadrado, ou seja, a irradiação solar”.
Abri novamente a pastinha e exibi a segunda figura:



Ora aqui está!” – exclamei - “como podem ver, há 4,2 mil milhões de anos a irradiação na Terra seria a mesma que Vénus recebe hoje!”

Então há 4,2 Ga a temperatura da Terra seria de 450ºC, na tua opinião?” - Mário ostentava um sorriso maroto.

Aproximadamente”.

Já viste o que isso implica? Não existiria água à superfície da Terra, teríamos apenas uma atmosfera de vapor!”

Claro”, respondi tranquilamente, “e era uma atmosfera de respeito, porque se a água que existe actualmente na Terra se vaporizar, gera uma atmosfera imensa, com uma pressão atmosférica superior a 270 atmosferas, ou seja, 270 vezes a pressão atmosférica actual. O triplo da atmosfera de Vénus, que é de apenas umas 90 atmosferas! Na Terra não existia água líquida não. Mas sabes onde é que existia água no estado líquido nesses tempos recuados?”
"Não entendo o que queres dizer – Mário ficou baralhado com a pergunta.

Em Marte! Porque Marte também se tem vindo a afastar do Sol!”, respondi de pronto
Água em Marte?”, admirou-se Luísa; olhou para mim e depois para o Mário, em busca duma confirmação.

Sim, já ouvi falar nisso”, entusiasmou-se a Ana.

Há, de facto, algumas análises que sustentam terem existido em Marte grandes cursos de água, mesmo oceanos, aí há uns 3,8 Ga, o Mário entre o doutoral e o desconfiado, não lhe agradava certamente estar a fornecer provas que sustentassem as minhas bizarras teorias...

Exacto”, atalhei de pronto, “existem evidências de que correria água em Marte; mas existe uma evidência ainda mais importante do que essa: a de que não existia água à superfície da Terra até há 3,8 Ga!

Não existia água?!? Que queres dizer com isso?” – a Ana estava a ficar baralhada.

Eh eh , eu esclareço: não existia água porque ela não estava no estado líquido. Existia vapor de água na atmosfera mas não existia água líquida à superfície! Estava toda no estado de vapor!”

Ah, estou a perceber, queres dizer que a temperatura da Terra seria superior a 100ºC”, comentou a Luísa.

Que ideia Luísa! Nada disso! A temperatura da Terra teria de ser superior a 374ºC! Não é Mário?” – uma oportunidade de envolver Mário na conversa, eu bem percebia que ele se queria manter à margem para não ser associado ao que eu fosse dizer. Ele não resistiria a mostrar o seu conhecimento. O Mário pensou uns segundos e concordou:

Certo Jorge. A água só ferve a 100ºC à pressão atmosférica normal, ou seja, à pressão de uma atmosfera. Se a pressão for maior, a temperatura a que ferve também é maior. Lembram-se das panelas de pressão?”

Ana e Luísa entreolharam-se. Dizia-lhes qualquer coisa o nome de panela de pressão, mas obviamente não era utensílio que usassem. Até que a Luísa disse:”eu lembro-me que a minha mãe usava uma, mas confesso que não sei porquê...

Numa panela de pressão, à medida que a água que está lá dentro vai aquecendo, o vapor de água vai aumentado a pressão lá dentro, por isso se chama panela de pressão. Isso faz com que a temperatura da água possa subir acima dos 100ºC sem ferver, o que permite cozer a uma temperatura mais alta, logo com maior rapidez, perceberam?”

Ahh, então é por isso que era tão popular!”, exclamou Luísa, rindo-se. Mário continuou:

Na Terra acontece o mesmo: se a temperatura for subindo, a água vai evaporando; como há muita água na Terra, a pressão atmosférica vai subindo e a água nunca chega a ferver. Isto até se atingir a temperatura de 374ºC, a chamada temperatura crítica da água. A esta temperatura a água já não pode ser liquefeita por maior que seja a pressão. É por isso que o Jorge diz que há 3,8 Ga a temperatura da Terra teria de ser 374ºC, porque abaixo dessa temperatura existiria água no estado líquido e acima não”.

Muito bom este Mário, pensei com os meus botões. Sem preparação, soube explicar o assunto duma maneira que me pareceu clara. Ana e Luísa pareciam esclarecidas, olhavam agora para mim à espera da continuação.
Admitindo então que a água surge nessa altura, obtemos um dado precioso: ficamos a saber que há 3,8 Ga a temperatura da Terra era de 374ºC. E, com isso, podemos saber algo muito importante!”

O quê?”, interrogou o Mário, meio sorriso.

Lembram-se daquelas continhas sobre a temperatura da Terra e de Vénus em que se concluía que uma atmosfera de nuvens como as da Terra e de Vénus teria uma sensibilidade térmica de 0,35ºC/W? Ou seja, por cada W a mais de irradiação a temperatura sobe 0,35ºC, lembram-se disso?” . Ana e Luísa assentiram vagamente com a cabeça. Não desmoralizei e continuei:
"Bem, agora podemos fazer as mesmas contas comparando as condições na Terra há 3,8 Ga e as actuais. E sabem que valor obtemos para a sensibilidade térmica?”

Qual?

"Obtemos 0,34 ºC/W. Ou seja, o mesmo valor, dentro da margem de erro da data!”

Senti que o meu ar triunfante contrastava com as expressões de perplexidade que me rodeavam. Tentei ser mais claro:
Reparem, este valor foi agora obtido por uma via completamente diferente; no entanto, este cálculo baseado nas condições terrestres em duas épocas muito diferentes veio confirmar o valor obtido comparando Vénus e Terra na actualidade. Isto vem-nos dar confiança para este valor. E isso é muito importante sabem porquê?”

Explica lá”, antecipou-se Mário

Porque agora podemos fazer uma estimativa da variação da temperatura da Terra ao longo do tempo, dado que sabemos a irradiação e a sensibilidade térmica. E o que se obtém é isto!”- da pasta tirei a terceira folha e coloquei-a em cima da mesa, exibindo, triunfante, o gráfico da temperatura.

Isto é muito bonito”, retorquiu o Mário após uns segundos a examinar o gráfico, “mas onde estão os factos que comprovam isto? Meu caro Jorge, se isto fosse verdade, não faltariam evidências!!”

Mas é que não faltam mesmo Mário, queres ver?”
Espera aí, esclarece-me aqui uma coisa antes de prosseguires” – interrompeu Ana – “se Marte teve água e oceanos, um clima parecido com o da Terra hoje, enquanto a Terra era ainda um inferno quente, quer isso dizer que a Vida surgiu primeiro em Marte? – os olhos de Ana brilhavam de dúvida e de excitação.

Eh lá, espera aí “, ri-me, “é ainda cedo para falarmos da origem da Vida. Vamos primeiro ver que confiança nos pode merecer este gráfico da temperatura terrestre.”

quinta-feira, outubro 04, 2007

O Primeiro Amor


Conta lá então a tua teoria sobre o atraso científico deles, Alita.

Bem, para começar, nós fomos mal informados sobre o estádio de desenvolvimento em que eles se encontram.

Como assim?

Não é habitual a fase tecnológica desenvolver-se tanto antes da fase científica, e isso terá levado a um erro de apreciação do desenvolvimento deles.

Estás a dizer que eles ainda não entraram na fase científica?

Estão na fronteira, quase entraram com Galileu, Newton, Einstein, mas depois resvalaram.

Como assim?

Estás a repetir-te muito Tulito! Ah ah ah, parece que hoje sou eu quem dá as novidades aqui!

Deixa-te de coisas e explica-te.

Bem, temos de voltar à plasticidade do cérebro deles. Como achas que será a primeira percepção que eles têm do Universo?

Então, que o Universo é feito de matéria e espaço vazio, Céu e Terra, um Sol que traz o dia, sei lá que mais... uma percepção antropomórfica e imediatista das informações dos sentidos... como nós, há uns milhares de anos...

Isso tudo e mais uma coisa: eles como que gravam uma fotografia de como vêem o Universo na sua infância e essa imagem estabelece o modelo de Universo que ficará com eles toda a vida.

E então?

Estás distraído? Eu não te falei na grande plasticidade do cérebro deles? Este primeiro modelo do Universo vai estruturar o seu cérebro. Tão marcadamente como o conceito de linha recta, por exemplo.

Não sei, eles desenvolveram outros modelos do Universo, disparatados mas diferentes desse, não estou a ver que estejas certa, Alita.

Parece-te que são diferentes. Podem até nascer diferentes. Mas depois tendem sempre para esse modelo.

Por exemplo?

Bem, o de Aristóteles corresponde exactamente ao modelo primitivo que descreveste, não é verdade?

Sim, mas e o modelo actual, o tal do Big Bang? É verdade que é estupidamente antropomórfico, mas as outras características não estou a ver...

Repara no que se tornou o modelo: segundo ele, o Universo será feito de matéria, matéria negra e energia negra. Mas na vizinhança deles não existe matéria negra nem energia negra, nem expansão do espaço, nada disso, apenas matéria ordinária e espaço ordinário, invariante; à distancia, ou seja, no “céu”, ao contrário, quase que só existe matéria negra e energia negra, representando 96% do Universo! E isso é por enquanto, porque à medida que forem aumentando o rigor das medidas terão de concluir que a matéria ordinária é incompatível com o modelo.

Estou a perceber, é a mesma visão dicotómica do modelo de Aristóteles, que é a mesma do modelo primitivo. E estou a gostar de ver esse teu ar de olhos esbugalhados de espanto, ficas muito bonita assim!

Cala-te! Tinhas de acrescentar um disparate à coisa certa que disseste. Mas é isso. A geometria é diferente, claro, mas a natureza conceptual do modelo é a mesma. O conceito de “Terra” alargou-se à galáxia e, tal como no modelo de Aristóteles, tem um “céu” distante onde existe uma coisa desconhecida e com propriedades inimagináveis, a matéria negra, e onde existe uma coisa que suporta os astros, impedindo-os de colapsarem, a energia negra. O conceito cósmico é basicamente o mesmo, apenas os nomes são outros.

Bom, isso que dizes faz algum sentido, eu já me tinha interrogado como tinha surgido um disparate assim.

Mas repara que um disparate destes só é possível porque eles se encontram ainda na fase tecnológica, fazem apenas modelos matemáticos dos dados, não fazem modelos físicos, como Galileu, Newton ou Einstein tentaram fazer, ainda que primitivos.

Pois, isso já eu percebi.

O aspecto importante para a nossa missão é o seguinte: o modelo primitivo que fazem do Sol, como algo que é fonte da luz, do calor, da vida, eterno e protector, impede-os de descobrir a verdade. Já viste a teoria deles para a formação do Sistema Solar?

Pois, tão inacreditável como o modelo do Big Bang.

Exacto. Mete-se pelos olhos dentro como é que o sistema solar se formou. Está escrito em todos os seus detalhes, são inúmeras as evidências que mesmo isoladamente dizem logo como é que os planetas se formaram. No entanto, eles como que se recusam a ver isso e insistem numa hipótese obviamente impossível, que eles sabem que é impossível porque andam há décadas a tentar modelar e não conseguem.

Estou a perceber, a verdade é contrária ao modelo primitivo que eles têm do Sol. A hipótese correcta é logo eliminada nos níveis profundos do seu cérebro, pois entra em conflito com as ligações neuronais que a percepção primitiva estabeleceu. Como eles se encontram ainda na fase tecnológica, nada sabem de geração de hipóteses e não têm forma de tornear isso.

Bingo. Já percebeste porque é que eles vão falhar a previsão do próximo Evento Solar!

Sim, preocupante.

Preocupante? Ah, mas espera aí porque eu descobri algo ainda mais preocupante!

Mau... deixa-me digerir isto primeiro, tenho de pôr as ideias em ordem porque esta informação vai alterar os meus cenários. Vou usar a máquina de inteligência artificial para verificar umas coisas.

Está bem. Mas despacha-te porque o outro assunto é importante.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Homo Sapiens Societaris


Tulito, já percebi porque é que os humanos ainda têm um conceito do Universo tão atrasado.

Porque são muito estúpidos?

Lá estás tu! Estupidez não pode ser a resposta: a tecnologia deles impressiona!

Está bem, está bem, não resisti a ser engraçado, já sabes como sou, Alita. Conta lá.

O cérebro deles tem uma curiosa propriedade: os seus circuitos neuronais são moldados pelas coisas em que acreditam.

Como é isso?

Quando o cérebro deles aceita uma coisa como verdadeira, todas as hipóteses geradas pelo seu inconsciente passam a ter que satisfazer essa “verdade”. Ora em vez do cérebro continuar a gerar múltiplas hipóteses e depois analisar e rejeitar as que contrariam essas “verdades”, ele cria ligações neuronais que só permitem a geração de hipóteses compatíveis com essas “verdades”. Digamos que a rejeição de hipóteses “falsas” é feita logo ao nível do “hardware” e não por “software”.

Portanto, estás a dizer que, contrariamente a nós, a estrutura física do cérebro deles depende das coisas em que acreditam?

Exacto. É uma forma de o cérebro conseguir ser mais eficiente. Quando a sobrevivência pode depender da rapidez de decisão e o cérebro ainda é relativamente lento, esta solução permite maior rapidez de decisão, maior eficiência.

Então é uma vantagem?

É uma forma de tornar o cérebro mais eficiente em situações rotineiras, vantajosa nas espécies inferiores, mas tem um grave inconveniente quando se trata da espécie mais avançada.

Qual?

O seu cérebro fica moldado pelas “verdades” em que acredita. Fica incapaz de gerar hipóteses contrárias a essas “verdades” e incapaz de entender qualquer ideia externa que as contrarie.

Ahh, estou a perceber o problema... as “verdades” deles podem não ser verdades nenhumas e o cérebro deles fica prisioneiro de crenças erradas, impossíveis de corrigir porque moldadas no próprio “hardware” do seu cérebro.

Exactamente. Mas nota que isto também acontece connosco, esta é uma propriedade geral dos seres vivos. A diferença está em que neles esta plasticidade cerebral é muito mais marcada do que em nós. Na espécie dominante esta característica deve regredir, foi o que aconteceu connosco, mas neles aumentou.

E porquê?

Eu penso que terá a ver com uma longa fase de sobrepopulação com que tiveram de viver; a organização em grupos dava vantagem, tanto maior quanto maior o grupo. Porém, para conseguir grupos grandes e coesos era necessário uniformizar o pensamento.

Estou a ver, estou a ver: os que têm um cérebro menos moldável perdem-se em dúvidas, contestam as ordens dos chefes, não aderem a grupos, acabam preteridos pela sociedade deles.

Certo. Os humanos com cérebros menos moldáveis terão sido descriminados negativamente, a sua sobrevivência e reprodução foi pior do que a dos “moldáveis”.

Estou a ver: as sociedades deles criaram uma pressão evolutiva que favoreceu a capacidade de ser moldado pelas ideias, ou seja, de ser crente. Crente no sentido geral, não me refiro ao aspecto religioso.

Exacto. Já viste os animais domésticos deles? Os cães?

Sim. O que têm?

Os cães descenderão do lobo mas foram sucessivamente seleccionados para servir o humano. Assim, a generalidade dos cães está geneticamente condicionada para viver com os humanos, para os servir, para os adorar, para recorrer a eles na resolução dos seus problemas.

Estou a compreender. As sociedades humanas fizeram aos humanos o mesmo que os humanos fizeram aos lobos.

Aproximadamente. E daqui resultam dois graves problemas. Um deles é responsável pelo atraso científico dos humanos, o outro pela facilidade com que são manipuláveis por ideias completamente erradas. E descobri que este último problema pode ter uma consequência inesperadamente séria, muito mais grave que o Evento Solar que aqui nos trouxe. A sua alta capacidade tecnológica associada a esta limitação pode causar um estrago definitivo à vida no planeta fora dos oceanos.

De que estás tu a falar?

Ah ah, já vi que prendi a tua curiosidade! Deixa-me começar pelo problema responsável pelo atraso científico.



Foto: S. Roque e o seu cão, Praga (da Wiki)